Mesa-redonda debate relação entre política neoliberal e crise de energia


06/06/2001 16:15

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Em continuidade ao Ciclo de Debates sobre Impactos da Política Neoliberal em São Paulo, promovido pela bancada do PCdoB na Assembléia Legislativa, realizou-se nesta quarta-feira, 6/6, no auditório Franco Montoro, uma mesa-redonda sobre o tema Política Energética - Racionamento, Conseqüência da Privatização. Participaram do debate o coordenador do Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo, Ildo Sauer; o coordenador do programa de Planejamento da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coope) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Maurício Tiomno Tolmasquim; o presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, Paulo Tromboni, e a secretária geral da Federação Nacional dos Urbanitários, Sônia Latgê Milward de Azevedo.

Já na abertura do evento, o deputado Nivaldo Santana (PCdoB), coordenador dos debates, afirmou que o objetivo da mesa-redonda era aprofundar as razões pelas quais o país enfrenta a atual crise de energia. "Queremos apontar políticas novas para o setor, capazes de garantir o bem-estar da população", disse o parlamentar.

Para Maurício Tolmasquim, ao contrário do que afirma o governo, a origem da crise não é a seca, mas a falta de investimentos em geração e transmissão de energia. Segundo ele, as usinas hidroelétricas brasileiras são concebidas para enfrentar o período de estiagem e todo o sistema funciona de modo cooperativo, possibilitando a transferências dos excessos de uma região para a outra. "A questão é que o consumo cresceu 49%, enquanto a capacidade de geração se ampliou apenas em 39%", disse o coordenador da Coope. "Para camuflar a falta de investimentos, o governo foi lançando mão das reservas de água feitas pelas unidades geradoras para os próximos anos, mas o futuro chegou e, com ele, a escassez."

Tolmasquim acusou a área financeira do governo de impedir as antigas estatais de investir em geração "porque o FMI considera os gastos com energia ''meras despesas'', portanto, itens a serem cortados dos orçamentos".

De acordo com Paulo Tromboni, a raiz do problema está no modelo institucional adotado pelo governo desde o início da década de 90. "Antes o modelo era estatizado, mas a partir do começo da década passada difundiu-se a concepção ideológica segundo a qual um ambiente de mercado liberal seria capaz de gerir este sistema complexo e programar os investimentos, de modo a garantir o crescimento da oferta na mesma proporção da ampliação da demanda", afirmou o presidente do Sindicato dos Engenheiros "Essa concepção fracassou". Para sair da crise, Tromboni sugere a criação de um Fundo Nacional de Energia e a participação do setor público no sistema, sem exclusão do capital privado. "Só não podemos ficar reféns do monopólio privado", advertiu.

Ildo Sauer atribuiu ao despreparo do governo toda a responsabilidade pela crise: "Este governo não tem estatura ética, nem política, nem técnica para superar esta crise, criada pela sua irresponsabilidade". Sauer lembrou que durante 50 anos o Brasil teve suprimento estável e contínuo de energia. "Com o único objetivo de proporcionar lucros aos grandes investidores, o governo levou apenas cinco anos para destruir o sistema elétrico que levamos meio século para construir", afirmou Sauer.

alesp