Seminário na Assembléia debate acidentes no trabalho

(com fotos)
10/05/2002 21:17

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DA REDAÇÃO

Desempregados, trabalhadores, líderes sindicais, patrões, representantes do governo e especialistas da área de saúde e segurança no trabalho se reuniram nesta sexta-feira, 10/5, no auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa, no Seminário do Dia Estadual do Acidentado do Trabalho. O deputado Cícero de Freitas (PTB), autor da Lei 10.818/2001, que instituiu o Dia do Acidentado do Trabalho (dia 28 de abril), abriu o encontro convidando todos a buscar saídas para diminuir o número de acidentados de trabalho no país.

O evento foi uma realização da Assembléia Legislativa e da Fundacentro, que é ligada ao Ministério do Trabalho. Sônia Bombardi, assessora de projetos especiais, fez uma palestra sobre o papel da fundação na prevenção da ocorrência de acidentes do trabalho. Relatou as ações da Fundacentro nos últimos anos, destacando seus objetivos, e afirmou que o usuário principal da instituição é o trabalhador.

A sede da fundação fica na rua Capote Valente, nº 710, Pinheiros, em São Paulo. Para se conectar, o endereço eletrônico é www.fundacentro.gov.br. O trabalhador poderá se informar sobre cursos, sites sobre acidentes de trabalho, ter acesso à biblioteca, pesquisas e trabalhos publicados pela Fundação. Sônia lembrou que a Fundacentro realiza convênios para o desenvolvimento de pesquisas e ações educativas para diminuir acidentes de trabalho na construção civil e no setor energético, entre outros. Também o setor informal foi lembrado, quando a assessora garantiu que é necessário diminuir o número de trabalhadores sem carteira assinada.

Dentre as perspectivas de atuação da Fundacentro para os próximos anos, considerando temas que estão em pauta, como responsabilidade social das empresas e assédio moral, Sônia afirmou que a fundação tem se dedicado a influir em políticas mais eficazes para atingir um patamar de trabalho melhor do que aquele que o país tem hoje.

Segurança e Saúde do Trabalhador - Uma parceria de compromisso Este foi o tema abordado por Diógenes Martins, assessor na área de Segurança e Saúde do Trabalhador da Força Sindical, quando lembrou que o governo deve ser apenas um facilitador numa relação bipartite, estabelecida pela parceria de compromisso, "sustentada no princípio de responsabilidade social entre capital e trabalho, com autonomia, diálogo e confiança".

Diógenes comparou os 3.000 mortos acidentados/ano a uma epidemia, pior que a guerra do Oriente Médio. Perguntou ao público o que está errado, e por que não se resolve o problema. Ele mesmo respondeu que falta vontade política, "que precisa ser bem equacionada, sustentada no segmento das lideranças tanto dos trabalhadores quanto dos empresários", ressaltando que o problema é cultural, "num país em que não se avança na relação direta capital/ trabalho".

Segundo o deputado Cícero de Freitas, que também é sindicalista, "a luta é para permitir um melhor equilíbrio na relação capital/trabalho com a realização de cursos, conscientização da sociedade, dos empresários, porque muitas empresas ainda trabalham com equipamentos sucateados, obsoletos, se comparados aos do primeiro mundo". Ele informou que a cada quatro dias morre um operário no setor de construção civil. Na metalurgia são 94 óbitos/ano, acrescentando que quando não ocorre o óbito, na maioria dos acidentes, o trabalhador fica mutilado e, consequëntemente, fora do mercado de trabalho.

O ex-consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), conselheiro regional para a América Latina, encarregado do Setor Médico em Genebra e atual consultor do SESI, Bernardo Bedrikow, um dos participantes do encontro, acredita que a comparação unilateral dos dados da OIT, que colhe dados nacionais, sem ajustes, dá um quadro falso de que o Brasil é campeão em acidentes do trabalho. Isto seria, segundo ele, uma interpretação grosseira sem sustentação nos números. "Há muitos acidentes, e é preciso diminuir esse número. Principalmente na população não coberta pela Previdênca Social, que está trabalhando e sofre acidentes graves e fatais", alerta.

Doutor Bernardo afirma que a reversão desse quadro deve se dar através de iniciativas concretas por parte dos trabalhadores e dos sindicatos, o que já provocou um "estímulo de ordem preventiva por parte das empresas". Para fortalecer essa posição, ele ressalta a ajuda por parte de organismos internacionais, como no combate ao trabalho de menores, além de estimular ações voluntárias junto aos empregadores.

Esteve aberta ao público, durante o evento, exposição de fotos das gravuras que ilustram o livro "As Doenças dos Trabalhadores", editado pela Fundacentro, de Bernardino Ramazzini, considerado o "pai da medicina do trabalho". Ramazzini era médico, italiano, que em 1700 estabeleceu a relação entre doenças e atividades profissionais. Maria Luiza de Azevedo, curadora da exposição, afirmou que a obra de Ramazzini está viva, tão atual que fala das inflamações nos tendões dos linotipistas, o que é hoje conhecido como LER - lesões de esforço repetido.

alesp