DEMOCRACIA E INCLUSÃO DIGITAL - OPINIÃO

*Arnaldo Jardim
15/05/2002 18:56

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Recentemente, um prefeito amigo do interior me ligou de sua cidade e perguntou: "Arnaldo, você viu a matéria sobre a obra que conseguimos que saiu no jornal do município?"

Em menos de cinco minutos fui ao computador, acessei a Internet e pronto, estava com a matéria na mão. Um processo que anos atrás poderia demorar dias se resumiu a minutos.

Este é um exemplo das maravilhas que as novas tecnologias nos proporcionam, deixando nossas vidas mais práticas e ágeis.

Infelizmente, esta praticidade está muito longe da maioria das pessoas. Hoje, sessenta e cinco por cento da população mundial nunca deu sequer um telefonema e 88% dos usuários da Internet, os ''internautas'', se encontram nos 24 países mais ricos do planeta.

Para falarmos de dados mais próximos de nossa realidade, no Estado de São Paulo, mais de 3 milhões de pessoas acessam a Internet, mas destes, apenas 2% são oriundos das classes menos favorecidas, o que mostra a que ponto chega a desigualdade no setor.

Uma radiografia triste, se constatarmos que a Internet se tornou uma das maiores fontes de pesquisa e informação do mundo. Além de ter-se transformado em ferramenta essencial para potencializar as carreiras profissionais de nossos jovens.

Nove entre dez analistas de recursos humanos - responsáveis pelas contratações de novos funcionários nas empresas - dizem que, entre as qualificações necessárias para que um candidato possa almejar um bom posto de trabalho, a busca pela informação e pelo conhecimento é essencial ao jovem pretendente.

Especialistas do meio acadêmico têm afirmado que as grandes empresas buscam como um perfil ideal de funcionário aquele que não perde um minuto sem se atualizar, seja lendo o jornal enquanto espera o ônibus ou acessando a Internet na hora do almoço para colher as últimas notícias. Está claro que vivemos dentro de um mercado altamente competitivo, em que as pessoas que dominam mais rapidamente as informações tendem a conquistar espaços e a dominar o poder.

Dentro deste contexto, onde estamos? No Brasil, apenas cerca de 5% da população tem acesso à rede, sendo que destes, 80% pertencem às classes ''A'' e ''B''. Ou seja, temos um grande acúmulo de informações nas mãos de poucos, o que tende a aumentar ainda mais a concentração de renda no País.

É preciso que o Governo inverta esta lógica e isso não será possível apenas com ações pontuais, como por exemplo o atual governo eletrônico; os programas financiados pelo Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações); os Telecentros da Prefeitura de São Paulo e os quiosques eletrônicos dos Correios. São medidas que ajudam, mas não resolvem.

Precisamos sim de um amplo programa de inclusão digital, que proporcione o barateamento do acesso à Internet, a ampliação de nossa infra-estrutura tecnológica e a multiplicação de monitores treinados para orientar o povo a utilizar corretamente as máquinas, para que faça o bom uso desta ferramenta.

Desta forma, democratizaremos a informação e abriremos um leque de oportunidades à população, evitando que o poder continue a se concentrar nas mãos dos mesmos de sempre.

Inclusão digital, portanto, não é apenas assunto de fissurados em computador. É bandeira fundamental dos que lutam pela consolidação e fortalecimento do sistema democrático e pela igualdade do acesso de todos à evolução tecnológica!

*Arnaldo Jardim é deputado, presidente estadual do PPS, engenheiro civil. Relator Geral do Fórum SP Século XXI e Secretário da Habitação (1993).

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