O ESTILO ALCKMIN DE GOVERNAR SÃO PAULO - OPINIÃO

Antonio Duarte Nogueira Júnior*
21/03/2001 14:02

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Para quem ainda tinha dúvidas se Geraldo Alckmin iniciaria seu governo na mesma linha do governador Mário Covas, a resposta veio na primeira reunião com todo o secretariado na semana passada: iniciou um conjunto de medidas de combate à violência, considerado a principal preocupação da população e calcanhar de Aquiles do Estado.

O governador poderia, por exemplo, iniciar por caminhos mais fáceis. Preferiu, no entanto, começar pelo lado mais crítico, numa clara mensagem à sociedade de que o Estado não vai empurrar a questão da segurança pública com a "barriga" e nem se contentar com a argumentação de que o a situação é crônica em todo o país. São Paulo vai continuar dando bons exemplos.

A primeira medida talvez tenha sido uma das mais audaciosas dos últimos tempos: a desativação do Complexo Carandiru, um dos maiores do mundo, com 7.400 presos, superlotado e sem estrutura de recuperação. O projeto deve ser apresentado até o final da semana pelo secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. Enquanto isso, a Casa de Detenção foi desmembrada em três penitenciárias e um dos pavilhões passará a ser um centro hospitalar.

As rebeliões sincronizadas em todas as penitenciárias do Estado, no mês passado, encabeçadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), foram, de fato, o primeiro desafio ao novo governador. E também dessa vez, a reação foi firme: desde a rebelião já foram transferidos 303 membros da facção criminosa a penitenciárias do interior, para desmontar o cérebro da organização, cuja pretensão era formar um governo paralelo comandado por telefone celular.

O pacote contra a violência também incluiu a desativação das carceragens nos distritos policiais e transferência de presos para os Centros de Detenção Provisória, a nomeação de 198 delegados, 800 investigadores e a entrega de 228 viaturas equipadas para trafegar em qualquer tipo de terreno. Foram investidos mais de R$ 40 milhões em equipamentos para as polícias Civil e Militar.

A Febem também está na lista de prioridades do governador Alckmin. Ele pediu pressa na construção de unidades menores, adaptadas a medidas socioeducativas que, de fato, proporcionem aos adolescentes infratores a oportunidade de se reintegrar à sociedade. Nesse item, o Estado está fazendo sua parte, embora o sistema necessite de uma reformulação, via Congresso Nacional, que reveja toda a legislação sobre a recuperação de adolescentes infratores, incluindo também o Estatuto da Criança e do Adolescente.

São questões que, a exemplo das finanças públicas, exigem uma boa dose de coragem ao administrador que queira resolvê-las. E o governador Alckmin sabe disso. Sabe também que o combate à violência e à crise carcerária vem ao encontro do que a sociedade espera do governo. Esse, pelo jeito, vai ser o estilo Alckmin de governar São Paulo.

*Antonio Duarte Nogueira Júnior é engenheiro agrônomo, deputado estadual, vice-líder do governo e vice-presidente do PSDB de São Paulo. Foi secretário de Estado da Habitação no governo Covas (1995/96)

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