O governo federal anunciou, no início de maio, a suspensão temporária de 25% do orçamento da segurança para este ano. Isso significa corte de R$ 106 milhões nos R$ 422 milhões definidos para o setor no fim de 2001.O corts de verbas é uma das conseqüências do atraso da votação da prorrogação da CPMF no Congresso, provocado pelo choque entre os antigos aliados PSDB e PFL. O governo federal passou a ter grande dependência daquela taxa do cheque - antes anunciada como provisória e destinada à saúde, hoje integrada à longa lista de impostos permanentes e usada para custear outras áreas da máquina da administração pública..É interessante como a postura do governo federal se altera em relação a alguns casos graves do País. Quando esses problemas ficam ainda mais intensos e ocupam grande espaço na mídia, logo aparece uma autoridade do governo para anunciar medidas milagrosas. Algum tempo depois, entretanto, tudo cai no esquecimento, superado pela repercussão de outros fatos, e a solução desaparece.A solução depende de ação e de investimento. No Brasil, esse é, sem dúvida, o caso da segurança pública, torpedeada pelo avanço da violência e da impunidade. Dois anos atrás, em julho de 2000, o presidente Fernando Henrique Cardoso lançou, com grande intenção de impacto, o Plano Nacional de Segurança Pública. Foi então criado um incentivo para os Estados: a União repassaria verbas anuais para as unidades da Federação aplicarem em pessoal e em equipamentos destinados a combater os criminosos. No ano passado, entretanto, boa parte do Plano Nacional de Segurança Pública foi cortada. Em 2002, o caminho é o mesmo, em contraste com o discurso presidencial de apenas quatro meses atrás: no fim de janeiro, época do seqüestro e assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, do PT, muita gente bradou por castigo exemplar para os culpados. O governo federal não se omitiu, pelo menos nas palavras - condenou o bárbaro crime e voltou a prometer verbas e ações concretas contra a violência. No mesmo período, ocorreu a libertação do publicitário Washington Olivetto, mantido por seqüestradores num cubículo durante 53 dias. Olivetto respirou aliviado e recebeu centenas de mensagens, entre as quais um longo telefonema de apoio do próprio presidente da República.Ironia do destino ou do marketing? Do jeito que as coisas estão, parece que é preciso acontecer um crime chocante por dia, se possível tendo uma pessoa famosa como vítima, para que nossas autoridades não descuidem de algo importante como a segurança.Cabe lembrar, porém, a atuação firme do governador Geraldo Alckmin nos últimos meses. Ele trocou o comando da Secretaria da Segurança Pública e da Polícia Militar, apoiou ações enérgicas da PM - como no caso do ataque em Sorocaba que culminou com a morte de 12 bandidos - e impôs regime drástico para criminosos nos presídios. Como jornalista, radialista e deputado estadual, tenho sido um crítico independente e exigente diante de erros cometidos desde 1995 pelos governos federal e estadual na área de segurança. Porém, admito que o governador Alckmin reage à altura ao avanço do crime, pondo em prática várias das 18 sugestões que lhe fiz em 2001.*Afanasio Jazadji é advogado, jornalista, radialista e deputado estadual pelo PFL.