Daniel Ching nos transporta, com sua pintura, à época do Renascimento veneziano.

Emanuel von Lauenstein Massarani
31/01/2003 19:30

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A pintura histórica que retrata episódios tanto religiosos quanto profanos alcançou grande popularidade em Veneza em plena época do Renascimento. Quinhentos anos depois, bem no início do Novo Milênio, eis que surge em São Paulo um jovem artista com o mesmo interesse em transmitir sua visão de episódios semelhantes.

Através de uma releitura pragmática e de uma linguagem própria, Daniel Ching consegue nos transportar aos séculos onde brilharam Bellini, Mantegna, Giorgione, Piero della Francesca, Antonello, entre outros grandes.

Um profundo estudioso da Renascença, Andrea Martindale, ao analisar a obra desses mestres, afirma com muita propriedade que: "Os mais belos efeitos da cor se dão quando o contraste entre a intensidade da luz e da sombra atinge o auge".

A obra de Daniel Ching, que utiliza a pintura a óleo sobre pranchas de madeira -- tão rara em nossos dias --, busca também uma atitude precisa em relação ao emprego da luz para definir a forma e seus detalhes. Pela sua importância, esse cuidado no equilíbrio da luz merece, sem dúvida, ser destacado.

Nuances de sombra são incorporados pelo artista ao esquema de cor da pintura, enriquecida pela mistura de tonalidades claras e escuras que engloba a mistura tradicional de cores complementares. A clareza de sua composição e a profundidade cromática, obtidas pelo contraste das cores primárias, são banhados de uma luz intensa, aliada a sombras equilibradas.

A obra Daniel na Cova dos Leões, doada ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, situa o profeta numa paisagem mágica, reminiscência dos cenários criados pelos artistas do início do século XV. O resultado é um estado de espírito peculiarmente evocativo acentuado pela docilidade da presença leonina, dentro de uma caverna sombria.

O efeito do conjunto é total. A estrutura pictórica controlada exerce profundo efeito no esboço da cena, seja na pintura, seja na distribuição das figuras e do contexto em que se encontram. Vale salientar que o sentimento do contexto ou da paisagem constitui um traço característico da pintura de Daniel Ching. Por outro lado, o movimento aparece identificado por uma animação em suspenso e os sentidos são despertados pela cor utilizada e pela detalhada observação da cena que o pintor desenrola aos olhos do espectador.



O Artista

Daniel Lopes Ching nasceu em São Paulo, em 1968. Dez anos depois, começou a esboçar seus primeiros "desenhos" de super-heróis. Seu primeiro contato com o universo da arte foi aos 16 anos, em um estúdio fotográfico onde aprendeu as técnicas básicas, adquirindo uma grande base em perspectiva e anatomia. Nessa mesma época, ingressou na Associação Paulista de Belas Artes.

O aperfeiçoamento das diversas técnicas ocorreu com o estudo e através da leitura de livros dos grandes mestres do passado e com o mais antigo método de aprendizado: a tentativa e o erro.

A especialização artística veio com trabalhos de criação para agências de publicidade. Em 1993, recebeu o prêmio APBA no II Salão Artístico daquela associação. A partir de 1994, colaborou na Galeria Triângulo como assistente de Ricardo Trevisan, onde teve um panorama sobre a arte contemporânea. Paralelamente, voltou a trabalhar como ilustrador, o que favoreceu sua noção do equilíbrio e do jogo de cores.

De 1996 a 1998, realizou experiências com pintura automotiva em suporte dos mais diversos. No final de 1998, produziu capas para livros e revistas através de computação gráfica. Em 2001 realizou uma viagem de estudos pela Itália percorrendo Roma, Florença e Veneza, sempre à procura de uma definição artística. Voltando a São Paulo assumiu uma postura que o levou a se expressar através de uma releitura da arte Renascentista iniciando, então, a pintura da série Os Doze Profetas.

alesp