RESGUARDE-SE O PAÍS - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
30/05/2001 14:45

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Nada mais patético do que os últimos discursos do presidente FHC. Disparou críticas à mídia, à oposição e aos aliados. Concluiu que a atual crise de energia é fruto de falta de investimentos de seus antecessores e da incompetência de alguns - leia-se, entre outros, o ex-ministro Rodolpho Tourinho, da tropa do outrora aliado ACM. Em suas assertivas uma certeza, própria dos tomados pelo fascínio e isolamento de um poder que se esvazia. FHC se acha detentor da verdade, poço das virtudes e monopolista dos acertos. Os erros? São impostura das circunstâncias.

Na história, já vimos filmes parecidos. Quando um líder perde a serenidade e o senso crítico é sinal de que está em decadência. Como brasileiro, espero que o desespero da derrota iminente não leve FHC a tentar arrastar o Brasil na sua queda livre.

Às oposições, mais do que nunca, cabe um papel fundamental para impedir que esta situação leve o país para uma crise institucional. É preciso firmeza, mas são dispensáveis os gestos espalhafatosos e as intervenções oportunistas "de jogar para a arquibancada".

Um exemplo claro é a crise de energia. O povo quer dos detentores de mandato popular uma dedicação especial para gestar alternativas concretas que evitem os apagões. Está o povo, mesmo indignado com a crise e as ações autoritárias do governo, disposto a uma ação cidadã com sacrifícios que permitam ao país respirar e evitar o mergulho na escuridão.

Jogar para a torcida, nesta altura do campeonato, é fazer gol contra. Sem dizer amém às medidas de um governo próximo do fim e sem rumo, é preciso ser propositivo para que a nau Brasil não fique à deriva, sujeita a naufrágio.

Os homens, os políticos e os partidos devem se pautar por princípios éticos rígidos. Quando se transige esses princípios e se admite que os fins justificam os meios, estamos fadados a fracassar em nossa missão de transformar, pois nossa base estará comprometida. Fazer oposição, por exemplo, atirando para todo lado só pelo simples fato de não concordar com quem está no poder, dá o mesmo direito do inverso acontecer e coloca todo o mundo no mesmo saco. É o que está acontecendo na Prefeitura de São Paulo: como explicar que a CPI do lixo é menos legítima do que outras CPIs defendidas pela oposição? Particularmente, acho que existem diferenças, mas entendo também que a forma espalhafatosa e pouco responsável que o PT trata o exercício do seu papel de oposição contribui muito para isso.

O vento que venta lá, venta cá. É preciso que as idéias sejam defendidas de forma mais transparente e sem estar vinculada diretamente ao fato de você estar ou não no poder. Em resumo, de nada vale o conteúdo se minha forma de conduta for igual à daquele que me oponho.

É essa confusão de princípios que faz o povo considerar todos os políticos como iguais, nivelando-os por baixo. Isso é péssimo para a democracia, principalmente para quem, como eu, entende que sem democracia não há possibilidade de transformação econômica e social para o Brasil.

*Arnaldo Jardim é engenheiro civil e deputado estadual pelo PPS.

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