Opinião - Trem-bala merece prioridade?


03/05/2011 13:34

Compartilhar:


O Senado aprovou dias atrás projeto que converte em lei a medida provisória que autoriza o governo federal a liberar financiamento de R$ 20 bilhões, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para o Trem de Alta Velocidade São Paulo-Rio de Janeiro (TAV), mais conhecido como trem-bala. Outra parte dos recursos virá da iniciativa privada, provavelmente consórcios com participação de grupos estrangeiros. Por ora, o custo total da obra está estimado em R$ 33 bilhões. Mas, como é estimativa, é correto supor que os valores podem alcançar patamares superiores, como é costume no que diz respeito a obras públicas. E já existem comentários de que poderá alcançar os R$ 50 bilhões.

Trata-se de uma obra discutível sob o aspecto do custo-benefício. O trem-bala deverá ligar Campinas ao Rio de Janeiro, passando por São Paulo, e com estações nos aeroportos de Viracopos, Cumbica e Galeão, num trajeto de 518 quilômetros. O sistema, de alto custo, privilegiará pequena parcela da população, que vive nessas metrópoles. Isto se não se mostrar deficitário. Então, mais dinheiro público para mantê-lo em operação.

Não tenho dúvida de que esses recursos deveriam ser aplicados de outra maneira para oferecer melhor qualidade de vida à população. Poderiam ser aplicados em mais quilômetros e estações do Metrô, tendo em vista que em São Paulo, só para colocar um exemplo, uma infinidade de pessoas gasta cerca de duas horas ou mais de casa ao trabalho ou à escola. Justamente pela falta de alternativas de transporte público. São Paulo precisa muito mais de metrô do que de trem-bala. Isso é cristalino.

Outra opção para aplicação dessa montanha de dinheiro é recuperar as ferrovias e ampliá-las, não só para o transporte de carga como também de passageiros. Mais econômico, rápido e não poluente. Mais uma alternativa para a destinação desses recursos: construir vias elevadas sobre as rodovias que cortam a Região Metropolitana de São Paulo, tais como a Dutra, Castelo Branco, Anhanguera, Fernão Dias. Desse modo, seriam reduzidos os rotineiros congestionamentos na chegada e saída de São Paulo. E isso se traduz em enormes prejuízos financeiros, bem como o sacrifício das pessoas. As vias elevadas deveriam ser também implantadas sobre as Marginais do Pinheiros e do Tietê, que diariamente apresentam enormes engarrafamentos.

Portanto, sem dúvida alguma, o trem-bala não deve mesmo ser prioridade e sua construção é discutível, tendo em vista os benefícios reduzidos que trará. Comparando o trem-bala com as situações que descrevi, de melhorias das ferrovias, do cinturão de rodovias que corta a Grande São Paulo e ampliação do metrô, com certeza essas providências serão mais úteis para a nossa população.



* Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

alesp