Sonho olímpico depende de cultura esportiva

OPINIÃO - Romeu Tuma*
01/09/2003 14:14

Compartilhar:


O bom desempenho da delegação brasileira nos Jogos Panamericanos, quando obteve o quarto lugar na classificação geral, atrás apenas de Estados Unidos, Cuba e Canadá, fez com que diversas modalidades, quase sempre esquecidas pela mídia, ganhassem destaque sem precedentes. Saltos ornamentais, tênis de mesa, futebol feminino e remo, entre outros, ocuparam diariamente as primeiras páginas dos principais jornais brasileiros, além de ganhar preciosos espaços em horários nobres de todas as emissoras de televisão. Porém, a festa e a euforia passaram rápido. A própria mídia, que tanto falou durante a competição, poucos dias depois jogou um balde de água fria, ao enfatizar que o Pan não reuniu os melhores atletas das Américas, deixando evidente que os índices técnicos obtidos estão longe de satisfazer quem têm sonhos maiores, como a conquista de medalhas olímpicas. Alguns chegam até a arriscar que o Brasil corre o risco de obter apenas um ouro em Atenas, no ano que vem.

Não vem ao caso neste momento discutir se os jogos realizados na precária cidade de Santo Domingo, na República Dominicana, tiveram baixo índice técnico, nem tampouco desqualificar a conquista de nossos briosos atletas. Mas vale considerar que o Brasil tem poucas chances de obter sucesso nos Jogos Olímpicos de 2004, na Grécia, por um motivo muito simples: o país do futebol não valoriza o esporte nem os esportistas. O Brasil não tem uma cultura voltada à prática de esportes, infelizmente.

Enquanto essa situação perdurar, não há como se iludir. Nossas conquistas, lamentavelmente, se resumirão a heróis isolados que vencerão competições, apesar de serem brasileiros e, por isso, não terem recebido o devido tratamento e atenção das autoridades esportivas do país. Não há uma política séria de incentivo aos esportes. Os patrocínios, quando existem, vão para federações, muitas vezes dirigidas por gente que tem interesses pessoais muito maiores que os coletivos. Os clubes ficam à deriva. Não recebem investimentos adequados e ficam impossibilitados de promover as categorias de base. Ou seja, não conseguem formar os atletas. Esses se vêem numa angústia ainda maior. Além de sofrerem para conseguir treinar em condições bastante precárias, ainda precisam passar o chapéu nas poucas empresas que se propõem a realizar patrocínios esportivos.

Neste caso, perdem todos. Os atletas não conseguem competir. As empresas não conseguem expor suas marcas ou produtos. Os clubes ficam limitados a investir apenas nos esportes de massa (leia-se futebol), deixando de cumprir o importante papel social de reunir e formar talentos esportivos. As federações, sem a devida seriedade, volta e meia, se envolvem em escândalos. Por fim, perde o Brasil, que não consegue perpetuar seu nome como uma força esportiva no mundo.

Somente com um investimento permanente nas mais diversas modalidades esportivas, quando as empresas privilegiarem ações voltadas aos clubes, poderemos ter um retorno permanente na mídia. Quem sabe, desta forma, a ginástica artística possa ocupar as primeiras páginas dos jornais com uma freqüência bem maior. Talvez, o salto ornamental possa ser noticiado sempre que houver uma competição local e não apenas quando uma atleta obtiver, sabe-se lá em que condições de treinamento, uma medalha de prata em Santo Domingo. Somente assim, o Brasil poderá almejar os mais altos lugares do pódio, inclusive na competição maior, aquela que povoa o sonho de todos os atletas, que é a Olimpíada.

*Romeu Tuma é delegado de Classe Especial da Polícia Civil, deputado estadual (PPS) e presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de São Paulo.

alesp