ESPERAR PARA VER - OPINIÃO

Milton Flávio*
05/12/2001 14:00

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Os críticos da administração Marta Suplicy (PT), pelo visto, vamos ter que engolir a língua. As folhas nos informam que a prefeita acaba de anunciar um aumento de 5% aos professores e funcionários da rede municipal de ensino. Pode parecer pouco, diante do reajuste de 40% concedido, no início do ano, aos que, em sendo seus amigos ou amigos dos seus, ocupam cargos de confiança. Não é. Reclamar é coisa de gente que não sabe que um pardal na mão vale mais que muitas andorinhas voando - por mais vistosas que elas, as andorinhas, sejam.

Se mais não fosse, os jornais também nos informam que os funcionários da Educação vão receber um abono polpudo. Não se sabe bem de quanto, já que a margem anunciada é mais larga que a banda cambial e qualquer outro tipo de banda. Também são ignorados os critérios para a concessão do benefício, assim como a data em que a benesse será concedida. É possível que tudo seja esclarecido em breve, ainda nesta semana, quando a prefeita anunciará seus planos para a Educação nos próximos três anos, já que doze meses foram para o espaço, pois pouco se fez de concreto no período.

Ainda não se sabe se o anúncio será acompanhado de coquetel. É provável que não. Mas isso é o de menos. O que importa é saber como - e a que custo - as metas serão cumpridas, se é que o serão. Os leitores já estão cansados de saber que a Prefeitura pretende alterar a Lei Orgânica do Município (LOM) e reduzir de 30% para 25% o volume de recursos a ser aplicado na manutenção e desenvolvimento do ensino. Intuem que a conta será coberta pela elevação de impostos, leia-se IPTU. Ou que tudo não passa de mais um plano.

Os desafios são imensos. Daí, a curiosidade em conhecer a forma encontrada pela administração para resolvê-los. A idéia, sempre de acordo com as folhas, é diminuir o número de turnos e o de alunos por classe, ampliar o número de vagas nas escolas, remunerar de forma mais adequada professores e funcionários, apresentar um projeto detalhado de valorização do magistério, oferecer gratuitamente aos alunos transporte, uniforme escolar, merenda de melhor qualidade e complemento de renda. Tudo isso gastando o mesmo que hoje não se gasta e investindo o que já se investe - um pouco mais, quem sabe? - em propaganda. Afinal, 2002 é ano de Copa do Mundo e de eleições.

Só nos resta esperar para conhecer o novo plano. Segundo as más línguas de sempre, ele tem apenas o objetivo de quebrar de uma vez por todas as resistências de membros do próprio PT à redução de verbas para o setor. Se isso não funcionar, virá o "centralismo democrático". E quem ousar manter os compromissos assumidos ao longo da vida vai mesmo para o olho da rua. Com o PT, sabe-se, não se brinca. Até porque, entre eles, às vezes o que está escrito vale mais, muito mais, que o dito.

*Milton Flávio é deputado pelo PSDB-SP, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo e da União dos Parlamentares do Mercosul (UPM)

e-mail: mflavio@al.sp.gov.br

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