Brasil global

OPINIÃO - Arnaldo Jardim*
21/06/2004 17:19

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A realização da 11ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), na capital paulista, colocou o País no centro das discussões sobre o livre comércio global. Sob o guarda-chuva da ONU, estão os principais negociadores mundiais, como o comissário europeu para o comércio, Pascal Lamy, seu colega norte-americano, Robert Zoellick e o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Supachai Panitchpakdi.



Mas, porque a abertura dos mercados é tão importante para a melhoria de vida da população brasileira?



Em um País em desenvolvimento, engessado pelas dívidas, um forte desempenho comercial pode proporcionar ao Brasil mais fôlego para enfrentar eventuais oscilações internacionais, garantindo, assim, um maior equilíbrio das contas internas e externas, além de promover a estabilidade necessária para entrada de investimentos estrangeiros, de médio e longo prazos.



O desafio deste comércio global está em estabelecer regras claras que resultem no equilíbrio necessário, entre os países ricos e pobres, para que a competitividade não seja suprimida pelo poder econômico. Enquanto, as nações desenvolvidas desejam exportar bens e serviços, a grande maioria dos países em desenvolvimento quer garantir espaço para seus produtos básicos.



A principal área de conflito está na agricultura. Os países exportadores, entre eles o Brasil, querem que os Estados Unidos e a comunidade européia eliminem práticas como os subsídios à exportação e o apoio doméstico aos seus produtores.



Entretanto, mesmo diante do entrave nas negociações internacionais, o Brasil registrou um aumento de 34% no seu superávit agrícola - nos primeiros cinco meses deste ano -, passando de US$ 9,054 bilhões, em 2003, para US$ 12,123 bilhões. Ainda, segundo o Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA), no acumulado do ano, o País exportou US$ 14,1 bilhões - 28% a mais que em igual período de 2003.



O resultado foi embalado pelas exportações de soja, que aumentaram 26,1%, seguido por alguns dos principais produtos da pauta agrícola brasileira como: carnes, com 55,4%; cereais, farinhas e preparações, com 357%; e açúcar e álcool, com 52,5%.



Isso garantiu um saldo total de exportações, em 2004, da ordem de US$ 11,86 bilhões - US$ 3,2 bilhões acima do resultado obtido em igual período do ano anterior e praticamente metade de todo o saldo de 2003.



Ou seja, o agronegócio é o maior negócio deste País.



Segundo pesquisa do MAPA - entre 1990 e 2003 - o agronegócio foi responsável por 33,8% do Produto Interno Bruto (PIB), respondeu por 37% dos empregos gerados e representou 44% das nossas exportações.



Mas nada acontece por acaso. Essa competitividade brasileira é fruto do permanente investimento em tecnologia e desenvolvimento. E isso pode ser traduzido em números.



Nos últimos dez anos, a área plantada passou de 39 milhões de hectares para 46,9 milhões de hectares - aumento de 19,98% -, enquanto a produção passou de 76 milhões de toneladas para 120 milhões de toneladas, representando um incremento de 57,9%.



Que a agricultura é a pedra de toque da economia brasileira ninguém discute, afinal ela representa hoje 9% do nosso PIB. A questão agora está em garantir que este diferencial brasileiro tenha um espaço maior no mercado internacional, e isso passa, impreterivelmente, pelo sucesso nas negociações internacionais.



Atualmente, pelo menos três vias estão em pauta. Uma global ou multilateral, que está sendo discutida no âmbito da OMC; uma bilateral, entre Mercosul e União Européia; e outra continental, para a formação da Área de Livre Comércio das Américas - Alca. Em todas, o principal ponto de discórdia está no tema agrícola.



Mas, sou um otimista e, posições como a da ONU - que defende a abertura agrícola como forma de combater a fome no mundo e as desigualdades sociais - só respaldam este posicionamento.



Este mundo globalizado deve utilizar seu mercado sem fronteiras para promover o desenvolvimento de países como o Brasil. Essa é a nossa exigência!



*arnaldojardim@uol.com.br

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