O empreendedorismo social e a carta na mesa

Opinião
27/04/2007 16:47

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Um famoso conto policial de Edgar Alan Poe fala de uma carta que é desesperadamente procurada por inúmeras pessoas nos lugares mais inesperados, mas está escondida justamente no lugar mais óbvio, em cima da mesa do seu destinatário. É por não estar escondida que não consegue ser encontrada. Muitos graves problemas do país também não encontram soluções porque nossos olhos estão acostumados a procurar no lugar errado.

Um destes problemas e o desemprego e a geração de renda. Estamos acostumados a buscar soluções para isto em projetos convencionais, seja pela atração de investimentos, pelas renúncias e incentivos fiscais ou outros meios, seja atribuindo ao Estado " ou seja com o dinheiro de toda a sociedade " as soluções paliativas do empreguismo, do paternalismo, do assistencialismo. Mesmo quando todas estas soluções se mostram insuficientes, prejudiciais até, se insiste nelas pelo simples motivo de estarmos acostumados a só olhar por este ângulo da questão.

Uma resposta melhor, mais efetiva e até mais barata porque se torna auto-sustentável está ali bem na frente dos nossos olhos, como a carta na mesa, mas nem sempre é vista: o empreendedorismo social. A despeito de nem sempre olharmos para ela o Brasil já é o terceiro país do mundo na área, demonstrando a eficiência e os resultados. Poderia ser mais se o excepcional talento empreendedor do brasileiro encontrasse uma visão mais receptiva e organizada.

A cada vez que ouço críticas á globalização penso que é perfeitamente possível fazer a globalização da economia trabalhar a nosso favor, abrindo os amplos mercados do mundo aos produtos e serviços oferecidos por indivíduos ou comunidades. A quantidade de experiências bem sucedidas neste campo ultrapassa nossa imaginação e transpõem em muito a falta de ousadia daqueles que de tão aferrados a velhos modelos imaginam que gerar empregos é aumentar o tamanho do Estado ou distribuir programas assistenciais.

Mais do que apenas gerar renda, o empreendedorismo social também contribui para a formação e fortalecimento de um sentimento comunitário de identidade, cidadania e colabora para a organização da sociedade. Ao estimular a iniciativa pessoal, a solidariedade comunitária e a cidadania de grupos sociais o empreendedorismo social vai muito além de qualquer programa de geração de emprego convencional.

Ao invés de distribuir pobreza " e é preciso dizer que qualquer política assistencialista implica de um lado na necessidade de tributar mais e de outro fomenta o interesse politiqueiro de manter a pobreza e assim garantir um clientela permanente " é possível alimentar a produção de riquezas, de forma comunitária e auto-sustentável, gerando segmentos sociais independentes do poder público.

*Antonio Carlos é deputado estadual pelo PSDB e vice-líder da bancada. Foi prefeito de Caraguatatuba por dois mandatos e Diretor Técnico do CDHU

alesp