Igual ou diferente? OPINIÃO

Arnaldo Jardim
13/02/2003 15:07

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O governo Lula tem surpreendido a todos por sua ortodoxia na condução da política econômica, com a manutenção do modelo econômico que aí estava e está. Modelo tão criticado, que levou o País a uma situação de paralisia e que toda a sociedade e todos os principais candidatos à Presidência da República proclamaram a necessidade de mudá-lo.

O PT manteve alguns pontos de natureza tributária, como a alíquota de 27,5% do Imposto de Renda e a prorrogação da CPMF, que afirmava querer mudar. O PT não só manteve a política de juros, como os elevou e agora anuncia a busca de um superávit primário ainda maior, na casa de 4,25%, quando o próprio presidente havia dito que a busca deste superávit acabaria por comprometer qualquer possibilidade de desenvolvimento econômico.

Ressalto estas questões não para criticar o PT, até porque, com os elementos de que disponho, acredito que estas medidas sejam momentaneamente necessárias. Já defendia isso antes e continuo defendendo agora.

O que me causa espécie é que estas questões, que devem ser entendidas como movimentos conjunturais, destinados a segurar uma situação econômica e evitar um descontrole fiscal, ou seja, impedir, como se diz, que "o angu desande", não estejam sendo acompanhadas de uma discussão sobre uma mudança estrutural e profunda do modelo econômico.

E é isso que quero reivindicar, sem nenhum tipo de oportunismo nestas afirmações, até porque é notório que, enquanto cidadão, tenho grande expectativa em relação à mudança política que o governo de Lula pode significar para o país. E como dirigente partidário tenho um compromisso de aliança política traduzida no apoio parlamentar e na presença do PPS no governo. Portanto, não só torço, mas defendo o governo que apenas inicia os seus passos.

Exatamente esta situação é que me impõe o dever de fazer este alerta, questionando se não há outros caminhos imediatos a seguir e exigindo que um novo rumo seja buscado, ou seja, reivindicando que, de uma forma articulada, rápida e firme, se busque discutir a construção de um novo modelo econômico em que a presença do Estado seja maior e mais eficiente, para promover o desenvolvimento; que a nossa interface com a economia internacional seja bem definida; como também identifique os setores dinâmicos encarregados de puxar o desenvolvimento e a distribuição mais equilibrada de renda.

Afinal, a austeridade fiscal é muito saudável para a economia, mas não cria nem distribui riquezas. Também não implementa um modelo social mais justo, destoando, assim, do compromisso assumido pelo próprio governo Lula, de fazer diferença nesta área. É bom ter em mente que a esperança de uma vida melhor, atestada pelo resultado das urnas, precisa sair da retórica e começar a ser construída para refletir concretamente no dia-a-dia do povo brasileiro.

ARNALDO JARDIM - Deputado Estadual

Engenheiro Civil, 47 - Secretário da Habitação (1993)

Presidente Estadual do PPS (2001/02)

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