Governo Rico, polícia pobre

Opinião
03/06/2005 16:50

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A realidade da Polícia Militar do Estado de São Paulo é esta: não bastassem os riscos enfrentados em suas missões contra bandidos armados, os policiais são obrigados a usar sempre a mesma farda, que vai sendo remendada a cada mês, e botas furadas. A denúncia foi feita por PMs da cidade de São Paulo, de municípios do interior e de várias regiões do litoral. A Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar confirma o péssimo estado dos uniformes dos policiais e explica que o Governo do Estado demora para fornecer novas roupas. "Faltam também armas, viaturas e coletes à prova de bala", lamenta a entidade.

Nesta altura, lanço uma pergunta: será que o Estado em que vivem esses policiais militares é o mesmo Estado de São Paulo em que moramos? Acontece que existe um choque muito grande entre uma informação e outra. Temos os discursos otimistas de algumas autoridades sobre as condições da polícia para enfrentar a onda de assaltos, seqüestros e homicídios, enquanto as denúncias dos próprios PMs dão conta de que as condições de trabalhos são tão precárias a ponto de faltar roupa, faltar arma, munição, faltar tudo. Quem mente?

Com minha experiência de mais de 30 anos em assuntos de segurança pública, dos quais 18 como deputado estadual, posso garantir: do lado dos PMs existe a realidade, já do lado do governo apenas marketing demagógico.

Apesar de o Brasil estar ainda a um ano e quatro meses das eleições, quando serão escolhidos o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, não há dúvida de que o palanque foi armado. Tucanos e petistas lutam pelo poder com as mesmas armas: o investimento em propaganda. O problema é que essa publicidade se baseia em inverdades, na tentativa de iludir a população. E cabe a nós, dos meios de comunicação e do Poder Legislativo, combater o uso demagógico da mídia. É importante que cada cidadão se informe e perceba as ciladas em que pode cair, quando se trata de informação sobre violência e criminalidade.

O Estado de São Paulo sempre foi mais rico que as demais unidades da Federação. No entanto, a julgar pela situação deplorável a que ficou relegada nossa tradicional Polícia Militar, dá para se perceber que temos um governo rico, mas uma polícia pobre. Como se sabe, os salários dos PMs são ultrajantes. Eles ganham tão mal que são obrigados a fazer "bicos" em suas horas de folga, ganhando alguns reais como vigilantes de lojas ou como taxistas. A perda da dignidade atinge o auge quando esses mesmos PMs são obrigados a repetir a mesma farda dia após dia, como se estivéssemos no paupérrimo Haiti, o país do Caribe explorado por eternos ditadores e por uma miséria endêmica.

Os números mostram que o crime continua ganhando a guerra contra a população pacífica e trabalhadora. Aumentam os casos de seqüestro, crime que atingiu as famílias de cinco jogadores de futebol em apenas seis meses - Robinho, Grafite, Rogério, Luís Fabiano e Marinho, que tiveram suas mães levadas por bandidos. Também há de se ressaltar que os seqüestros cresceram muito no interior e no litoral. Em Mogi Mirim, por exemplo, foi finalmente libertada a filha do comerciante e dirigente de futebol Wilson de Barros, depois de semanas e semanas de tensão. O mesmo tipo de crime ameaça moradores de Campinas, Indaiatuba, Jaguariúna, Itu, Mogi Guaçu, Valinhos, Vinhedo, Jundiaí, Santos, Guarujá e Praia Grande.

Sem confiar na polícia, que não tem dinheiro nem para fardas e munição, algumas pessoas contratam vigilantes particulares. Nesta altura quem faz a festa são as empresas que vendem proteção. E há motivos para comemorar, pois tais empresas faturam alto graças à pobreza das polícias e ao fato de uma lei absurda proibir aos cidadãos o uso de armas. Então pergunto: o que fazem os governos do PT e do PSDB? Simplesmente vão à televisão para falar mal um do outro e para apresentar dados deturpados. Se o Estado de São Paulo enfrenta um choque entre as versões da PM e as do governador, no Governo Federal aparece o ministro da Cultura, Gilberto Gil, para dizer que fumou maconha até os 50 anos de idade e é à favor da liberação dessa droga. Por isso tudo, o povo tem de refletir bastante sobre as eleições de 2006.

*Afanasio Jazadji é radialista e deputado estadual pelo PFL.

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