O DAY AFTER DE ALCKMIN E SUA HERANÇA

Willians Rafael*
28/03/2001 17:17

Compartilhar:


"Sempre se pode apagar o passado. O que não se pode evitar é o futuro." (Oscar Wilde)

Após a sentida morte do governador Mário Covas, comecei a imaginar como seria o dia seguinte de Geraldo Alckmin. E, ao avançar nos pensamentos, ousei avistar um cenário em que ele só não será presidente da República se não quiser. A antevisão desta cena, para minha surpresa e antes mesmo de concluir este artigo, já estava sendo compartilhada pela classe política no noticiário dos dias seguintes.

Foi assim com a opinião da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, sobre as chances do nosso governador na eleição de sua própria sucessão: "A candidatura de Geraldo Alckmin, dentro do PSDB, é praticamente imbatível". O ministro da Fazenda, Pedro Malan, refere-se a Alckmin como alguém "de quem muito ainda se ouvirá falar". O PFL, fiel da balança da coligação que viabilizou a vitória de Fernando Henrique Cardoso em seus dois mandatos, na ausência de definição de um nome próprio à sucessão de FHC, olha com carinho para São Paulo e para a hipótese de oferecer uma de suas estrelas, preferencialmente a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, como vice numa possível chapa. O governador do Ceará, Tasso Jereissati, ele próprio um dos nomes tucanos aventados para a sucessão, disse sobre Alckmin que "só de ter sido criado observando Covas, suas atitudes e seu caráter, já o credencia". Como podem observar pelas opiniões colhidas na imprensa, Alckmin já pode ter sido picado pela mosca azul da sucessão presidencial e, se ainda não foi, outras virão até o fim de seu governo. A única imunidade possível contra esta picada é o desafio de continuar a frente do Executivo do nosso Estado.

Por ser o herdeiro de fato e de direito de Mário Covas, ele está, mesmo contra sua vontade manifesta, projetado à sucessão de Fernando Henrique Cardoso, até porque todo governador paulista é um candidato nato à Presidência da República, independente de sua vontade, que deve se subjugar à da opinião pública.

As cartas da sucessão, goste ou não FHC, estão sendo colocadas na mesa e o destino caprichoso traz à luz o nome do governador de São Paulo por conta de seus méritos próprios, de sua nunca questionada lealdade e de seu perfil discreto como vice de uma das maiores figuras políticas que esta República concebeu. Alckmin saberá conduzir a bom porto a herança do governo paulista, "passando a régua" nos planos e projetos engenhados por Covas com pleno conhecimento de causa e da máquina que foi montada para executá-los. Por sua competência, o êxito certamente virá e ele então se verá diante do dilema de responder ao chamado do PSDB e das forças progressistas para a missão de ser presidente da República.

Até que este momento não chegue, ele vai precisar, mais do que nunca, da serenidade, do destemor, da capacidade de entrega e da disposição para a luta, porque maiores ainda se fazem os novos desafios que lhe estão propostos, sendo o maior deles, certamente, o de ser o herdeiro natural do exemplar governador Mário Covas, o estadista que São Paulo queria e podia oferecer ao Brasil.

Ao proferir a citação sobre passado e futuro com a qual iniciei este artigo, o escritor Oscar Wilde parecia, como eu, estar antevendo esse cenário e o dilema de Alckmin sobre seu inevitável futuro, resultante de um passado que não precisa ser apagado e sim motivo de orgulho.

(*) Willians Rafael é deputado estadual em São Paulo pelo PTB.

alesp