A deputada Ana Martins (PCdoB) requereu no dia 29/11 a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as atuais condições do trabalho rural no Estado de São Paulo. Durante três meses, nove deputados deverão investigar a existência ou não de trabalho exaustivo no campo. "O objeto da CPI é investigar se as mortes que vêm ocorrendo no interior são decorrentes do exercício de atividades extremamente pesadas", explica a proponente da CPI do Trabalho Rural.No dia 26/10, os jornais divulgaram a morte de um trabalhador rural em Rio das Pedras, região de Piracicaba, que supostamente faleceu por exaustão. Conforme noticiou a imprensa, ele passou mal depois de cortar 25 toneladas de cana em um único dia de trabalho. Para tanto, recebia cerca de oito centavos por metro de cana cortada.A ONU também está investigando o trabalho e as mortes de trabalhadores rurais no interior de São Paulo. Suspeita-se que outras 12 mortes, desde abril de 2004 até hoje, tenham sido provocadas pela mesma situação, ou seja, trabalho exaustivo. A Comissão investigará ainda outro fator que pode estar relacionado às mortes: a utilização de substâncias químicas na maturação da cana para que ela seja colhida com 45 dias de antecedência.Outro agravante à situação trabalhista deste segmento refere-se à relação de emprego precária devido à falta de registro funcional, isto é, carteira assinada, sem recolhimento de contribuição previdenciária e com pagamentos indignos, que levam os trabalhadores rurais a fazerem 12 horas de jornada, chegando até 18 horas por dia. "A terceirização (revenda) da mão-de-obra pelos "gatos" conduz os trabalhadores a conviverem em ambientes insalubres, violentos e sem acesso às mínimas condições justas de trabalho", argumenta a deputada."Outro fator que demanda investigação da Assembléia Legislativa é a situação de exploração de trabalho escravo em fazendas do Estado, pois, em que pese os dados do Ministério do Trabalho e Emprego que confirmam a "libertação" de dez mil trabalhadores em regime de escravidão entre 1995 e 2003, ainda persiste este atentado às relações de trabalho e contra os direitos humanos", defende a parlamentar. Segundo estes dados, só em 2002 e 2003, foram libertados sete mil trabalhadores. "A exploração da mão-de-obra infantil é outra chaga que atinge o campo e deverá ser investigada", esclarece Ana Martins. Em São Paulo, mais de 60 mil crianças trabalham. Não existem dados seguros sobre o contingente de trabalho infantil no campo."Não se pode permitir que esta terrível situação se perpetue. A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo precisa ter um diagnóstico aprofundado desta situação para que possamos indicar soluções concretas e eficazes. Além disto, devemos apurar as responsabilidades sobre esta triste realidade e exigir punição dos culpados", finaliza a deputada.amartins@al.sp.gov.br