Conforme faço anualmente, desde que foi implantado, participei neste ano novamente do Grito dos Excluídos, em Aparecida. Voltei para casa com um gosto amargo na garganta, de decepção. O que fizeram com aquele Grito vibrante, vindo das bases, que nos fazia acreditar que um dia as vozes dos excluídos seriam finalmente ouvidas e viria daí a revolução que o Brasil precisa para se transformar num país justo?

O que se viu no primeiro Grito do Governo Lula, eleito justamente pelo eleitorado que ansiava mudanças profundas e justas na estrutura da sociedade, foi algo frio, sem motivação e vibração. Desarticulado, o Grito dos Excluídos deste ano tinha pouquíssima gente em comparação com os anteriores. Os excluídos deste país não diminuíram, muito pelo contrário, pois o desemprego e sub emprego só faz aumentar.

Qual a explicação para isso? O tema do Grito deste ano, "Tirem as mãos, o Brasil é nosso chão", condena justamente qualquer acordo para a criação da Área de Livre Comércio das Américas, ALCA, que é vista apenas como uma forma dos Estados Unidos lançarem ainda mais seus tentáculos sobre países com economias não tão desenvolvidas, expandindo assim seu poderio econômico. Como estarão as negociações do Governo brasileiro para a implantação da ALCA?

Um dos programas de maior visibilidade do governo federal é o Fome Zero. Porém, essa visibilidade se restringe ao marketing pois, na nossa região ele ainda não atingiu seu objetivo, nenhuma prefeitura se organizou ou está sendo atendida.

Minha decepção com o Grito não se restringiu às manifestações externas. Dentro da Basílica, outra frustração com uma celebração também morna que pouco falou da exclusão social e da hegemonia norte americana.

Cheguei em casa cabisbaixo. Foi como se não tivesse acontecido o Grito dos Excluídos de 2003.

Padre Afonso é deputado estadual pelo PV