NA TERRA DE MARLBORO - OPINIÃO

Milton Flávio*
24/07/2001 17:55

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Os protestos estão em alta em todo mundo, não só no Brasil. Grupos fazem manifestações, aqui e acolá, contra a globalização e os blocos econômicos, os existentes e os que estão por vir. Ambientalistas promovem atos contra os alimentos geneticamente modificados e a instalação de usinas movidas a gás. Camelôs se rebelam contra a fiscalização e resolvem saquear lojas e agredir comerciantes e fiscais.

Perueiros ateiam fogo em ônibus, agridem policiais e atropelam transeuntes, pela simples razão de que - imediatistas - sonham viver numa terra sem leis. Categorias profissionais, na luta por melhores salários, se acham no direito de fechar avenidas, impedir a passagem de ambulâncias e a circulação de quem não tem nada a ver com seus problemas. Policiais civis e militares, por sua vez, resolveram brincar de marginais encapuzados.

Nada contra os protestos. Até porque eles fazem parte da democracia, desde que sejam feitos dentro da lei e sem violência. O que nem sempre ocorre. Policiais civis e militares ganham mal. Disso todo mundo sabe. Assim como todo mundo sabe que, por mais que venham a ter aumentos de salários, sempre receberão infinitamente menos que traficantes e ladrões de carga. Do ponto de vista financeiro e a curtíssimo prazo, o crime sempre compensa. Só que eles escolheram - como a esmagadora maioria da sociedade - o lado da lei. E a lei os impede de participar de quaisquer greves, estejam armados e fardados ou não. A inegável procedência de suas reivindicações vai para a lata do lixo, diante do desrespeito às leis.

Sabe-se que boa parte dos camelôs e perueiros encontra-se na ilegalidade por falta de melhores opções de trabalho, porque precisa sustentar os filhos etc. Mas nem o nosso paternalismo invencível é capaz de justificar atos de violência contra quem quer que seja, muito menos contra quem está trabalhando, dentro da lei, para também sustentar seus filhos. É preciso que o Poder Público delimite os espaços que lhes cabem e os faça cumprir as normas legais, estabelecidas da maneira mais democrática e transparente possível. Como não haverá espaço para todos, muitos terão que buscar outra ocupação. Paciência. É a regra do jogo. E jogo sem regra é anarquia. A não ser claro que se pretenda viver na "terra de Marlboro", onde as quadrilhas matam os xerifes e distribuem suas cartas marcadas.

Se sob o argumento de que a "vida está difícil" aceitarmos passivamente todas as ilegalidades, amanhã estaremos todos rendidos, nas mãos de uns poucos que controlam o comércio e o transporte "informal", protegidos - quem sabe? - por traficantes e contrabandistas.



*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo

E-mail: mflavio@al.sp.gov.br

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