As privatizações e concessões surgiram como uma alternativa para melhorar a qualidade e o alcance dos serviços públicos em diversas áreas, uma vez que o Estado brasileiro havia definitivamente perdido sua capacidade de financiamento.No entanto, o que deveria ser uma garantia de melhor serviço e de universalização está se tornando um problema para o cidadão brasileiro, na medida em que as garantias, sobretudo tarifárias, perpetuadas em contrato com as concessionárias, não guardam nenhuma relação com os ganhos obtidos pelo assalariado.A maioria destes contratos de concessão possui várias salvaguardas que deixam o concessionário em uma posição segura, quase sem risco, em relação ao seu empreendimento. O maior exemplo disso é o fato de o contrato contar com a garantia de não causar prejuízos, no que se convencionou chamar de equilíbrio econômico-financeiro.Trata-se de uma opção do governo que contrasta com o equilíbrio financeiro dos assalariados, cujo termômetro são os dissídios e os reajustes incorporados no seu holerite. Verificamos que, desde 98 até hoje, os reajuste dos salários ficaram bem abaixo do índice que corrige os contratos de serviços públicos concedidos, o Índice Geral de Preços Médios (IGPM), da Fundação Getúlio Vargas.Enquanto o IGPM ficou na casa dos 37% neste período, o reajuste dos administradores escolares não passou de 14,6%; dos operários da construção civil, 13,5%; dos trabalhadores da saúde, 17,36%; e o do salário mínimo ficou em 29%. É importante lembrar ainda que o IGPM superou outros indicadores como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), 18,5%, Dieese, 19%, e o Índice de Preços ao Consumidor da FIPE (IPC), 13,5%. Um exemplo claro da diferença de velocidade entre o aumento de serviços e de salários foi o reajuste concedido esta semana para os pedágios das estradas estaduais, com base no IGPM da FGV. Ele distancia o cidadão deste serviço e põe em xeque o princípio da universalização, que no princípio do processo constava como um objetivo a ser perseguido.A constatação ganha contornos mais dramáticos quando se verifica que financiamentos obtidos pelas empresas concessionárias junto ao BNDES (banco público) contaram, durante todo este período, com taxas de juros de 34%, inferiores aos reajustes obtidos nas tarifas.Enfim, é preciso que se corrija as distorções para que as concessões de serviços públicos, respeitadas suas características de negócio, tenham o foco voltado para o consumidor e não se transformem num cartório protegido dos riscos inerentes ao sistema capitalista.*Arnaldo Jardim é deputado estadual, presidente estadual do PPS, engenheiro civil, foi secretário da Habitação (1993) e relator geral do Fórum São Paulo Século XXI.