O EQUÍVOCO MAIA

Milton Flávio*
21/06/2001 13:55

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Quero usar este espaço para render minhas sinceras homenagens ao jovem Felipe Maia. Ilustre militante do PC do B e estudante de Economia da PUC-SP, ele acaba de ser eleito presidente da União Nacional dos Estudantes - a valorosa UNE, que, aferrada à foice e ao martelo, deixou de lado a generosidade típica da juventude em prol do corporativismo de resultados. Sua sinceridade é digna de registro.

Maia não deixa margem a dúvidas quanto a suas intenções, ao declarar à imprensa que continuará destinando pelo menos R$ 1 milhão - mais da metade do valor auferido pela entidade no ano passado com a cobrança pela emissão de carteirinhas de estudantes - para financiar manifestações públicas contra o governo federal. O que significa dizer que não faltarão, ao menos por um bom tempo, kombis, combustível e bandeiras aos seguidores do pensamento vivo de João Amazonas.

Sensível como é, o mercado já captou os sinais - claríssimos, diga-se - emitidos pelo novo presidente da UNE. Não por acaso, o dólar só faz subir, enquanto as ações despencam nas Bolsas de Valores. E ainda há gente que, por ingenuidade, atribui tais flutuações à crise vivida pela Argentina. Perto de Maia, Cavallo é amador.

O elogio a Maia se justifica pela sua absoluta sinceridade, algo raro nos dias de hoje, em especial na classe política. Ressabiados, os jornalistas costumam, por precaução exagerada, atribuir às declarações dos políticos um sentido exatamente oposto ao que disseram. Assim, se um ministro diz que a crise está sob controle, ficam todos com a impressão de que a vaca foi para o brejo há tempos. Se um líder partidário diz que os cargos ocupados por seus correligionários serão devolvidos e que a legenda fará oposição ao governo, a leitura que se faz é esta: "chantagem à vista".

Deixemos de lado, no entanto, as desconfianças. O presidente da UNE é tão sincero que pode passar a impressão de que é movido pela mais absoluta desfaçatez. Vejamos. Por força de uma legislação arcaica - no caso de São Paulo, datada de 1992 -, as carteirinhas de estudantes só podem ser emitidas pela UNE, UBES e entidades afins.

Para fornecê-las aos jovens que dizem representar, cobram de R$ 15 a R$ 18. Não é preciso que os futuros beneficiados sejam filiados. Basta que ponham as mãos no bolso, para ganhar o direito de pagar meia-entrada em cinemas, teatros e eventos esportivos.

Por meio de um projeto de lei, em tramitação na Assembléia Legislativa, pretendemos alterar a legislação em vigor, dando aos portadores do RG Escolar - documento oficial e gratuito emitido pela Secretaria de Estado da Educação - os mesmos direitos dos detentores de carteirinhas emitidas pela UNE. Aos seus dirigentes, parece inconcebível que a entidade perca o monopólio. Do contrário, como vão patrocinar os patrióticos atos contra o governo federal? Pouco lhes interessa que a esmagadora maioria dos estudantes - por falta de recursos ou por não concordar com a exigência descabida - estejam impedidos de pagar meia-entrada. O que lhes interessa única e exclusivamente é a manutenção do monopólio.

Daí a concluir que o jovem Maia seja um cínico é exagero. Ele é apenas sincero. E, lamentavelmente, equivocado.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo.

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