O crack e a convocação da sociedade


22/12/2010 12:02

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Estabelecemos como uma das prioridades para o nosso terceiro mandato, a ser iniciado em 15/3/2011, a proposição de medidas e ações de combate às drogas. Essa preocupação é fruto de uma série de constatações a respeito do assunto, sobretudo o fato de saber que 70% dos mais de 200 mil presos no sistema prisional do Estado são jovens envolvidos com drogas.

Temos nos reunido com entidades que cuidam desses jovens na tentativa de amenizar suas dificuldades para exercer suas atividades e fomentando a troca de experiências entre elas. Mais que isso, temos discutido as formas como todos podem se unir e ainda, efetivamente, vamos procurar destinar emendas orçamentárias como ajuda financeira a essas entidades.

Mas causou-nos uma angústia muito grande tomar conhecimento dos dados da pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que atesta que 98% das cidades brasileiras, de todos os portes, já foram atingidas pela "epidemia" do crack. Mais de 300 mil pessoas deverão morrer nos próximos seis anos devido a esse problema e muito pouco está sendo feito para mudar essa realidade. Vemos apenas algumas pessoas abnegadas, de fé e compromisso social, que procuram responder a esse grande desafio sem apoio do poder público.

As prefeituras poderiam e deveriam investir muito mais em políticas dirigidas aos jovens e adolescentes e às famílias. E as igrejas deveriam oferecer toda sua estrutura para que os jovens e adolescentes reconheçam que além do consumismo exagerado existem sonhos, projetos, esperanças e, sobretudo, um ideal cristão. Portanto, rompendo com todo tipo de comércio de bebidas alcoólicas nas suas festas e quermesses, pois o lucro adquirido rouba vida, sonhos e projetos, pois é maldito.

Temos insistido ao longo do tempo na importância que tem a adoção de políticas públicas que contemplem programas e projetos de profissionalização, fomento ao esporte e às atividades culturais e educacionais seriam, sem sombra de dúvida, uma das soluções mais indicadas. Um exemplo de proposta bem articulada é o projeto Coalizão Comunitária, de Pindamonhangaba, que envolve pelo menos 12 segmentos da sociedade, agindo de forma multidisciplinar.

É claro que essa situação também é criada por circunstâncias estruturais da sociedade, principalmente no que se refere à célula familiar, cada vez mais deteriorada. São os valores que estão sendo cada vez mais invertidos sob uma bandeira falsa da livre moral e aliados à falta de afeto e atenção que caracterizam nossas famílias.

É urgente, portanto, que as forças se unam e efetivamente tomem consciência de que o problema é de todos. De nada adianta se ajudamos as entidades que se ocupam desses jovens, se viramos as costas para o que ocorre à nossa frente, no nosso dia-a-dia, sem adotar medidas de prevenção. Só poderemos ser fortes se estivermos juntos, trabalhando com foco e objetivos definidos, sem partidarismo e sem preconceito.

Urge que o poder público trate com compromisso e seriedade essa questão. Está na hora do Estado oferecer tratamento de qualidade e de graça, com leitos para pacientes e dependentes pelo SUS, economizando o que certamente investiria em segurança pública e na construção e manutenção de presídios. Está na hora de deixarmos os discursos e partirmos para a prática organizada, planejada para dar a boa parte de nossos jovens e adolescentes a oportunidade de não serem bandidos.



* Afonso Lobato é deputado estadual pelo Partido Verde

alesp