De tempos em tempos, talvez por falta de assunto mais palpitante, ressurgem as discussões sobre a conveniência (ou não) de se promover, a cada quatro ou cinco anos, eleições gerais, como ocorria em passado recente. Os defensores da tese - de que os eleitores votem, de A a Z, de vereador a presidente da República de uma só vez -, em geral, usam como argumento a economia que tal medida traria para os cofres públicos.

Há também os que adicionam àquela justificativa o fato de que, em ano eleitoral, as casas legislativas, em todos os seus níveis, operam em marcha lenta. Não quero entrar no mérito da questão, ao menos agora, neste espaço. O curioso é que quase sempre que uma proposta dessas vem à tona ela está acompanhada do desejo explícito e maroto de prorrogar os atuais mandatos de uns e outros, num flagrante desrespeito às regras do jogo e, claro, ao desejo dos cidadãos. Quem propõe a mudança está pensando nos seus próprios interesses.

Agora mesmo, o deputado Severino Calvancanti (PP-PE), presidente da Câmara Federal, veio a público para afirmar, sem que ninguém lhe tivesse perguntado, que é favorável, sim senhor, à prorrogação dos mandatos do presidente da República, senadores, governadores, deputados estaduais e federais, por mais dois anos. A fim de que, em 2008, tenhamos por aqui eleições gerais.

Ora, ninguém que tenha tino é capaz de levar a sério uma proposta dessas - e por várias razões. Em primeiro lugar, porque, a se julgar pelas suas promessas de campanha, ele está preocupado com muitas coisas, menos com a economia dos recursos públicos. Em segundo, porque de louco ele nada tem. Nunca se soube, por exemplo, que ele rasgue dinheiro. O que se sabe é que prefere guardá-lo - sabe-se lá por quais razões - em casa. Como nos tempos em que fio de bigode valia alguma coisa.

O que Severino Cavalcanti está fazendo é, nada mais, nada menos, que criar uma cortina de fumaça. Para turvar o que está por vir. Em todos os sentidos.

Milton Flávio é médico e deputado estadual pelo PSDB-SP

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