A lei de Jefferson

Opinião
06/07/2005 16:50

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O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) virou uma espécie de celebridade nacional. Deve estar contribuindo para que jornais e revistas aumentem suas tiragens, bem como para que os programas de rádio e tv tenham sua audiência ampliada. Quanto tempo vai durar seu show é algo que ninguém sabe dizer. Não me alinho entre os que, na falta de respostas às suas acusações, tratam de denegri-lo. Menos ainda entre os que já se apressam em lhe pedir autógrafos nos shoppings-centers e aeroportos.

Não há nada de heróico em suas entrevistas e depoimentos. Suas intervenções são pautadas pela lógica. Se, em vez de advogado criminalista, ele fosse médico, seria cirurgião " e dos bons! Sabe onde e como cortar a carne alheia. É dentro desse contexto que suas reiteradas defesas do presidente da República devem ser vistas. Ali, não há paixão alguma, tietagem. O que ali há é simplesmente estratégia de defesa, ou de ataque.

Lula é sabidamente maior que o PT, que não existiria mais se não houvesse sua liderança. Os resultados das eleições de 2002 nos mostram isso, de forma cabal. Eleito com votação expressiva, ele não conseguiu fazer com que a bancada de deputados petistas fosse além de 20% na Câmara Federal. Anteriormente, o mesmo já se dera. Bater em Lula, portanto, ao menos nesse momento, não convém ao presidente licenciado do PTB. Muito pelo contrário.

Ao afirmar e reafirmar sua crença na inocência total de Lula " o que foi reiterado em sua recente entrevista aos jornalistas do Canal Livre ", Jefferson fez a ressalva de que ele não poderia imaginar que o ex-funcionário dos Correios seria capaz de enfiar no bolso R$ 3 mil e dizer que os caraminguás, segundo as gravações, iriam para o PTB, a fim de lhe custear despesas ordinárias.

Em sendo assim, como poderia o presidente, sempre lépido e faceiro a percorrer o mundo em prol de uma nova conformação econômica, saber o que cada um dos milhares de funcionários de confiança na administração direta e nas estatais poderia fazer entre um pouso e uma decolagem? É certo que um espírito de porco poderia sugerir a Lula que uma pergunta dessa ordem poderia ter sido feita diretamente à cúpula do PT nacional. Bem, mas essa é uma história que, por ora, não vem ao caso.

O que importa é o seguinte: se Lula não sabia, por que Jefferson deveria saber o que faziam de sujo, mas sem sua autorização, em seu nome? Mas, se Jefferson sabia, por que, então, Lula não deveria saber? O tempo dirá se estamos diante de dois culpados ou de dois baitas inocentes, não é?

*Milton Flávio (PSDB) é médico, professor de Urologia da Unesp (Botucatu) e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

miltonflavio@al.sp.gov.br

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