Nem sempre o melhor é o novo

OPINIÃO - José Caldini Crespo*
24/09/2003 19:36

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Recente pesquisa divulgada nos meios de comunicação descobriu o óbvio: o Brasil só irá melhorar econômica e socialmente se melhorar a educação dos brasileiros. Com vistas a isso projetos de alfabetização que prometem ensinar a ler e a escrever em pouquíssimo tempo estão sendo colocados em funcionamento e deverão formar milhares de novos analfabetos funcionais (aqueles que lêem, mas não compreendem ou sabem interpretar um texto, nem conseguem se fazer entender através de seus escritos).

Por sua vez, o ministro da Educação Cristovam Buarque afirmou esta semana, em Brasília, durante sua participação no Seminário Internacional de Educação, Ciência e Tecnologia como Estratégias de Desenvolvimento, que não falta dinheiro para a Educação, mas que, mesmo assim, é necessário que a sociedade e o setor privado entrem com a sua parte. Teria dito o ministro (de acordo com o jornal Gazeta Mercantil) que o brasileiro, em geral, preocupa-se mais com arranhão no carro do que com educação. Não é o que vemos. O que vemos são famílias abdicando de várias coisas, inclusive de seus carros, para manter suas crianças e jovens em escolas particulares, na tentativa de melhor formá-los.

Talvez o melhor fosse mantê-los na escola pública e engrossar os grupos de pressão para torná-la melhor. Mas qual cidadão, em sã consciência, podendo pagar, mesmo com algum ou com muito sacrifício, uma escola melhor para seu filho, vai mantê-lo nas nossas atuais escolas públicas?

Apesar das dificuldades econômicas que parecem já ter nascido com o nosso país, há 50 anos a educação no Brasil era boa. É verdade que não atingia a todos, mas a pouca educação pública que se tinha era de excelente qualidade. Há 30 anos ela já atingia a maioria das crianças e jovens das cidades, continuava a ser excelente e reduto do bom ensino. Também é verdade que havia gente fora da escola por esse país afora, mas os que viviam nas cidades tinham acesso à educação gratuita de qualidade. Antigamente escola boa era a do governo.

A maioria das escolas particulares que existiam eram consideradas de má qualidade, abrigando alunos repetentes, que não conseguiam ser aprovados nas escolas públicas. Naquela época, em que nem todos tinham escola, quem não fosse bom aluno e repetisse mais de uma vez a mesma série, era convidado a se retirar e dar a vaga para outro. Cobrava-se dos professores uma boa aula e dos alunos aplicação, assiduidade e notas.

Aprendia-se a ter disciplina, a se superar. Os melhores recebiam medalhas e eram incentivados a progredir ainda mais. Aqueles que não estavam entre os melhores queriam estar e trabalhavam para isso. Era uma honra ser um bom aluno. Todos almejavam isso. Havia respeito pelos professores. Hoje, a modernidade educacional considera isso uma competição desnecessária. As crianças são niveladas por baixo na escola pública e aprovadas automaticamente. Não há vantagem em ser o melhor. Os que têm as melhores e as piores notas passam igualmente de ano. Nossos jovens formados pelas escolas públicas não são mais preparados para o mercado de trabalho ou para a vida. Tanto faz para a escola ou para o país quais são os melhores.

O ensino público no Brasil tornou-se insosso, sem atrativo algum. Para quê estudar? Tenho uma sugestão. Por quê, na falta de um modelo novo adequado à realidade nacional, não fazemos uso do velho modelo que dava certo? O que faltava era levar a escola, naquele mesmo modelão, para esse Brasil afora. Será que se fizermos algo assim, meio arroz com feijão, sem "inventar", não conseguiremos alcançar mais rápido os níveis educacionais da Finlândia, Irlanda, Espanha, Coréia do Sul, Inglaterra e Malásia (citados pelo ministro da Educação por estarem no mesmo patamar que o Brasil há 30 anos e hoje muito a nossa frente).

O ministro cobra a participação da sociedade, com a aplicação de recursos. Mas o que vemos é a sociedade contribuindo e participando. Seja brigando diretamente por uma escola pública de qualidade para suas crianças, seja gastando seus últimos tostões para pagar escolas privadas.

*José Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL e segundo secretário da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa de São Paulo.

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