O ENSINO FUNDAMENTAL É O PRÉ - OPINIÃO

Caldini Crespo*
02/07/2001 17:20

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Dias atrás, o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sérgio Besserman, esteve na Assembléia Legislativa do Estado proferindo palestra e alertando para o crescimento desigual do nosso país, que, a despeito da melhoria de alguns indicadores sociais, se coloca como o campeão mundial da desigualdade, ao lado da África do Sul. Da apresentação de Besserman, chamou-nos especial atenção o alerta lançado sobre o risco a que estão sendo expostas pelos governos as nossas crianças, principalmente as que estão em idade pré-escolar, ou seja, na faixa etária entre zero e seis anos.

Citando o cientista Carl Seagan, falecido há alguns anos, o presidente do IBGE lembrou uma "previsão" por ele lançada que coloca em xeque o modelo educacional adotado pelo Brasil. Disse Seagan: "A principal revolução das primeiras décadas do novo século não estará no uso da informática, mas sim na educação das nossas crianças de muito pequena idade." A afirmação fundamentou-se na descoberta de que o cérebro é muito mais plástico do que se imaginava e sua capacidade é definida nos primeiros anos de vida, fase em que a quantidade de sinapses (conexões neurais) depende de estímulos. Portanto, depende de pedagogia.

Essa manifestação do presidente do IBGE destaca de forma incontestável a importância da educação pré-escolar de qualidade para o futuro das novas gerações. Ele chegou a recordar a questão da desnutrição, que acabou gerando o nanismo, denunciado há alguns anos no nordeste do Brasil. De nada adiantava a pessoa comer depois o que deveria ter comido em seus primeiros anos de vida. Ou seja, a pessoa atingida pelo nanismo está prejudicada irreversivelmente. "E agora estamos vivendo um problema semelhante com as nossas crianças", alertou o presidente do IBGE.

Esse relato acaba recebendo contornos ainda mais dramáticos quando analisamos o modelo educacional em desenvolvimento no país, em que está se privilegiando o ensino fundamental (1.ª a 8.ª séries) - se é que o que está aí é privilégio -, ignorando-se completamente a educação pré-escolar, que acaba sendo, na análise apresentada, a fase mais importante no desenvolvimento intelectual da criança.

Não bastasse esse descaso, há também, da parte dos governos, uma atuação negligente em relação à oferta de vagas em creches ou à construção de novas unidades de modo a atender a enorme demanda existente, represada pela falta de uma política adequada ao setor. O simples fato de o governo federal não considerar as vagas nas creches e pré-escolas para efeito de cálculo e repasses do Fundef é uma prova dessa negligência.

É terrível, mas as políticas educacionais aplicadas em nosso país estão comprometendo o futuro de uma geração. Precisa haver uma mudança de comportamento na política reinante.

* Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL

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