Opinião - Apagões e geradores: onde o consumidor fica?


23/02/2011 16:08

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Os apagões que ocorreram em diversos Estados brasileiros causaram transtornos e dor de cabeça em muita gente, principalmente em comércios e indústrias que não estavam preparados para a tal queda de energia. O apagão mais recente ocorreu neste ano e atingiu oito Estados do Nordeste., causando prejuízo de mais de R$ 100 milhões para a indústria da região. É o que estima a Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres). O valor é baseado somente no processo de produção e não considera outros fatores, como perda de matérias-primas e equipamentos.

Mas a discussão sobre o futuro e o risco de novos apagões voltou a ser assunto nos últimos dias, por causa do anuncio de José Aníbal, secretário de Energia do Estado de São Paulo. Segundo ele, shopping centers, empreendimentos comerciais e conjuntos habitacionais "vão ter que ter" geração própria para evitar apagões. Nas suas palavras: "Nos momentos de pico, eles saem da rede e fazem geração própria. Vai ter que trabalhar nisso. Isso não é só saudável do ponto de vista do conjunto do sistema, como é prudente do ponto de vista das insuficiências da transmissão da empresa que está aí. Vamos estimular".

A questão é que a frase incomodou muita gente, já que, por um lado esses geradores, por queimarem óleo diesel, vão contra a visão atual de energia limpa e, por outro, o custo dos equipamentos, na compra e na hora de manter o equipamento mesmo quando fora de uso, costumam ser altíssimos.

O sistema elétrico brasileiro, assim como transporte público e aviação ainda estão muito longe do ideal, mas independentemente do tipo de negócio, qualquer empresa necessita estar preparada para momentos de risco como os ocasionados por apagões, já que a continuidade e a estabilidade do seu negócio dependem desse tipo de gestão. Hoje, muito tem se falado na gestão de riscos corporativos, e as grandes empresas já têm setores específicos para esse tipo de situação, principalmente no caso de uma crise econômica, como a que ocorreu nos últimos anos.

Não sou favorável a transferir o ônus ao consumidor ou a quem quer que seja, ainda mais de um serviço fundamental como é caso da luz. Mais do que nunca é hora de estudar de forma criteriosa os eventos, suas causas e as maneiras de combatê-los, porque não é justo com a população sobrecarregá-la com mais um gasto, já que comprar e manter os geradores em condomínios e empresas é algo ainda muito caro. Além disso, como já foi dito aqui, esta não é considerada uma energia limpa. Não seria o caso de rever a produção de energia atual? É visível que a maneira de se produzir e transferir energia tem sido ineficiente e precisa ser revista para então apararmos as arestas.

Na época em que ocorreu o apagão de 2009, que atingiu vários estados brasileiros e o Paraguai, foi informado que o problema de falta de energia foi gerado pela queda de três linhas de transmissão que escoam a energia produzida em Itaipu. O evento, que segundo especialistas seria de baixíssima probabilidade, se repetiu isoladamente em outros períodos e mais recentemente no Nordeste e em São Paulo. É claro que por aqui a abrangência e o período foram bem menores, apenas alguns bairros ficaram sem luz por poucos minutos. Mas mesmo sendo em menor escala, esses episódios devem ser tratados com a mesma preocupação que aquele ocorrido em 2009.

Concordo com a tese de que toda a empresa deva ter um sistema de segurança preventivo, porque isso deve fazer parte da estrutura de qualquer organização que queira atingir grande crescimento econômico. Mas cabe salientar que isso é uma questão de liberalidade da empresa. Como defensor dos direitos do consumidor e autor de diversos projetos de lei em tramitação na Assembleia paulista, não poderia deixar de dizer que o apagão é outro assunto, é algo relativo a um sistema mais complexo que envolve governo, geradoras de energia e que passa pelas indústrias até chegar a nós consumidores, e geralmente são os consumidores os mais atingidos. No caso do gasto com a compra e manutenção de geradores, você, caro leitor, acha que quem vai pagar a conta?

O apagão ocasionou diversas perdas, mas um país que irá sediar a Copa de 2014, as Olímpiadas de 2016 e outros eventos de grande importância no cenário mundial precisa, além de melhorar sua infraestrutura, gerir melhor os seus riscos e se preparar para ser o centro das atenções nos próximos anos.



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido. Participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento da Assembleia.

alesp