Defesa da vida

Opinião
04/04/2008 17:25

Compartilhar:


Pesquisas científicas indicam que, todos os anos, 12 mil crianças são vítimas da Síndrome do Alcoolismo Fetal (SAF). Em média, a cada mil nascidos vivos, 2,2 bebês apresentam o distúrbio, conseqüência direta do consumo de bebidas alcoólicas, pela gestante, durante a gravidez.

É exatamente com o objetivo de alertar as mulheres sobre esse risco que defendo a inscrição de uma frase em todos os rótulos de bebidas alcoólicas envazadas e/ou comercializadas no Estado. O mesmo alerta deverá ser explicitado em todas as campanhas publicitárias de bebidas alcoólicas.

A obrigatoriedade está prevista no Projeto de Lei 1387/07, que protolei em dezembro na Assembléia Legislativa. Tomei a iniciativa a partir da constatação do crescimento do número de mulheres dependentes de álcool. Entre 2004 e 2006, cresceu 78% o número de mulheres alcoólatras atendidas pelos Centros de Atenção Psicossocial, mantidos pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Outras pesquisas indicam que, desde o final da década de 1980, sobe a proporção de mulheres alcoólatras no País: antes, uma para cada 10 homens; agora, uma para cada três. De acordo com especialistas, a tendência é preocupante, porque o organismo feminino é mais vulnerável biologicamente aos efeitos do álcool.

Enquanto os homens levam 15 anos, em média, para ter problemas no fígado, entre as mulheres este tempo cai para 5 anos. Há, ainda, maiores riscos de doenças cardiovasculares, câncer de mama, osteoporose e distúrbios psiquiátricos. Além dos efeitos adversos para a saúde física e mental, as mulheres também enfrentam conseqüências negativas nos campos familiar, social e profissional.

Mas a pior dessas conseqüências, certamente, é gerar um filho com a SAF. Uma dor carregada para toda a vida. A SAF é a principal geradora de déficits mentais e gera uma série de seqüelas, que comprometem a qualidade de vida dos bebês. Os problemas podem ser físicos, mentais, neurológicos ou comportamentais.

Há um déficit do crescimento antes ou após o nascimento, além de poderem surgir deformidades faciais, microcefalia (crânio pequeno) e desenvolvimento comportamental anormal. Além da geração de um bebê com a SAF, ao consumir álcool durante a gravidez, a mulher expõe seu filho a outros riscos.

Freqüentemente, o peso de recém-nascidos de mães que bebem durante a gravidez é inferior ao normal. Em média, os bebês expostos ao álcool durante a gestão nascem com aproximadamente 2 quilos, enquanto os demais recém-nascidos pesam cerca de 3,5 quilos. Além disso, o consumo de álcool durante a gravidez praticamente dobra o risco de aborto, especialmente quando o consumo é exagerado.

É fundamental destacar que a Ciência ainda não identificou níveis seguros de ingestão de álcool durante a gravidez. Daí a importância de uma completa abstenção nesse período. Isto reforça a necessidade de um alerta explícito às mulheres sobre os riscos a que estão submetendo seus filhos. Um alerta em defesa da vida.



*Maria Lúcia Prandi é educadora, deputada estadual (PT), 4ª Secretária do Legislativo Paulista e Mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP.

alesp