O GOVERNADOR E AS POLÍCIAS - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
14/08/2001 10:35

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Parece não haver dúvidas de que o governador Geraldo Alckmin precisava mesmo assumir pessoalmente a negociação com as 41 entidades das polícias Militar e Civil sobre os reajustes salariais, antes que o Estado de São Paulo ficasse diante de um complicado problema, a ameaça de uma greve de incríveis proporções.

O governador certamente percebeu que o secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, estava completamente desgastado diante dos policiais, por causa de suas posturas infelizes. Entre outras coisas, Petrelluzzi disse que algumas entidades não tinham aval para negociar em nome dos policiais. A declaração arrogante de Petrelluzzi, somada à sua limitação de conhecimentos para conduzir a pasta da Segurança Pública, havia colocado as polícias paulistas à beira de uma greve semelhante às paralisações que tumultuaram os Estados da Bahia, Pernambuco, Tocantins, Alagoas e Piauí.

O governador Alckmin, no entanto, foi inteligente e sensível. Convocou os representantes de todas as 41 entidades para uma conversa franca, no Palácio dos Bandeirantes. As cúpulas da Segurança Pública e das polícias também foram à reunião, mas quem falou foi Alckmin, afirmando que não poderia mudar a proposta de reajuste de 6% a 10% neste ano, mas prometendo novo aumento no ano que vem. Foi o suficiente para acalmar os ânimos de muita gente. O importante é que a conversa não ficou restrita a uma só reunião e acabou evoluindo de modo positivo. Um governador tem de mostrar autoridade e firmeza, mas também precisa deixar evidente a sua vontade de fazer justiça com profissionais que arriscam a vida no combate ao crime. Nessas horas, Alckmin mostra realmente postura de estadista, em vez de ficar provocando funcionários públicos, como vimos fazer seu antecessor durante seis anos. Já defendi, aqui, salários mais justos para os policiais de São Paulo, para que possam enfrentar criminosos e não ceder à tentação de passar para o lado dos bandidos. O governador apresentou argumentos concretos para não pagar o que as entidades dos policiais civis e militares exigiam. De acordo com Alckmin, o Governo do Estado não tem verba prevista no Orçamento deste ano para atender às reivindicações.

O governador teve habilidade para afirmar que não acredita na possibilidade de greve, elogiou a qualidade dos nossos policiais e prometeu outro reajuste em 2002. Foi convincente, com muito respeito. Alguns podem lembrar: 2002 é ano de eleições. De fato, e Alckmin surge como candidato em potencial ao Governo do Estado. Mas, antes tarde do que nunca. Os policiais paulistas foram submetidos a verdadeira tortura nos seis anos do governo Mário Covas: além de terem ficado com salários defasados, passaram a ser tachados de violentos e incompetentes. Resgatar a credibilidade e a dignidade das polícias é algo que compete ao próprio governador. Depois de extremo desgaste da imagem e das condições de trabalho dos policiais, o governador parece compreender a necessidade de uma atitude equilibrada e firme. Uma polícia frágil só interessa aos bandidos. Nesse particular, Alckmin está mais do que certo e acaba ganhando pontos.

*Afanasio Jazadji, jornalista, radialista e advogado, é deputado estadual pelo PFL

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