PAZ NA TERRA - OPINIÃO

José Caldini Crespo*
22/04/2003 15:03

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Na última sexta-feira, 11/4, a Igreja Católica comemorou o 40.º aniversário da publicação da encíclica "Pacem in Terris" (Paz na Terra), do papa João XXIII. Na mesma semana, soldados americanos comemoraram a queda do regime autoritário de Saddam Hussein através do uso da força - colocando a bandeira americana sobre o rosto da estátua de Saddam -, no Iraque recém-invadido em nome da democracia. Também nesses últimos dias, o governo de Fidel Castro, em Cuba, reprimiu duramente o que seria o ressurgimento de um movimento pela abertura política naquele país.

Em todos os lugares do mundo, não só na semana passada, mas no dia de hoje, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em nossas esquinas, bombas explodem, pessoas são mortas no fogo cruzado, se não dos exércitos que lutam numa guerra declarada, dos bandidos que enfrentam a polícia na nossa guerrilha urbana.

Por mais que já se tenha feito, há muito por fazer. A Febem de São Paulo está sendo reestruturada, unidades menores estão sendo criadas, mas as fugas, os reféns e as denúncias de espancamentos ainda são uma constante. Novos presídios têm sido construídos com tecnologia anticelular e antifuga. Guardas saem das muralhas para o policiamento das ruas, e mesmo assim as vagas não são suficientes para acomodar todos os presos, que provocam rebeliões e fogem das prisões. Crianças pedem nas ruas, outras roubam nas esquinas.

Pedimos paz no Iraque, em Israel, na Palestina e também nas nossas ruas.

Na celebração do Dia de Ramos, no domingo, o papa João Paulo II pediu ao mundo uma paz baseada na "verdade, liberdade, justiça e amor". Na missa, acompanhada por 40 mil fiéis na praça de São Pedro, ele lembrou os sofrimentos causados pelas guerras e pediu aos jovens presentes que manifestassem solidariedade às vítimas.

Na quinta-feira, 10/4, após encontro com 50 mil jovens, em sua primeira intervenção desde a queda do regime de Saddam Hussein, João Paulo II apelou às nações e às religiões para que trabalhem no sentido de curar as feridas abertas pela guerra no Iraque. "Só se houver empenho na construção da paz será possível relançar a cooperação entre as nações e harmonizar os interesses divergentes das culturas e das instituições", disse o sumo pontífice.

O papa, que tem 82 anos e 25 de pontificado, convidou os jovens a "empenhar-se na paz" no momento 'atribulado da história da humanidade, em que o terrorismo e as guerras ameaçam a concórdia entre os homens e as religiões".

João Paulo II pediu, portanto, não apenas solidariedade, mas atitude. Atitude que teve ao manifestar diversas vezes sua oposição à intervenção militar levada a cabo pelos norte-americanos e seus aliados no Iraque. Essa convicção foi expressa em mensagem enviada pelo sumo pontífice da Igreja Católica ao presidente norte-americano, George W. Bush, antes do início do conflito.

Atitude não implica arrogância, achar que se sabe mais do que o outro. Muito menos acreditar que se pode mais do que o outro. João Paulo II pediu que desse momento triste da história possamos tirar uma lição de amor, de solidariedade, e mudar de atitude. Para ele, "apenas empenhando-nos na construção da paz, baseado nos quatro pilares da verdade, justiça, amor e liberdade, como ensina a encíclica 'Pacem in Terris', será possível relançar a cooperação entre as nações e harmonizar os interesses diversos e divergentes entre as culturas e instituições". Eu concordo.



*José Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL e 2.º secretário da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa de São Paulo

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