Papelão Social

OPINIÃO - Pedro Tobias *
27/01/2005 18:06

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Luiz Inácio Lula da Silva chega à metade de seu mandato presidencial vivendo um caos na área social. Até os seus mais antigos seguidores o recriminam por não ter colocado em prática os programas sociais que prometiam mudar a vida de cada brasileiro carente.

Parte da imprensa, sempre dócil aos interesses do capital, aplaude sem discutir. O governo se baseia nessa imprensa para divulgar que está no caminho correto, e que os resultados são sua melhor prova. Os críticos contundentes, pertencentes a alguns movimentos sociais historicamente aliados ao PT - como o dos Sem-Terra (MST) e a Comissão Pastoral da Terra - , insistem na pergunta : de que valem bons números na área econômica se a catastrófica situação social não melhorou ?

As transformações sociais anunciadas com estardalhaço por Lula e sua equipe não ocorreram. Ao contrário : a ineficácia administrativa do governo fez com que em vários campos se registrasse um claro retrocesso, mal disfarçado por uma agressiva política de marketing. O mais expressivo talvez seja o que ocorre na reforma agrária, histórica bandeira de luta da esquerda brasileira. Em seus dois primeiros anos, Lula não cumpriu nem a metade do que prometeu.

Dois "papelões" servem de exemplo para ilustrar a mistura de política de marketing com a incompetência administrativa do governo Lula. Primeiro : para divulgar um programa de apoio à agricultura familiar, uma campanha pela televisão mostrou agricultores de uma cidade próxima a São Paulo entre pujantes hortas de alfaces, tomates e abóboras. Depois de citar números, o locutor anunciava solene : "isto é um fato. Esta é a verdade". Nem uma coisa nem outra. Os números correspondiam aos recursos previstos pelo orçamento elaborado pelo governo anterior, e o anúncio exibia cenas filmadas em uma propriedade particular, cujo dono se apressou em denunciar a farsa.

O segundo exemplo é ainda mais inusitado. Quando foi anunciado o badalado programa Fome Zero, muitos correram para fazer doações. A top model Giselle Bundchen, por exemplo, anunciou a entrega de um cheque de R$ 50 mil. Quatro meses depois, seu representante informou que o cheque ainda não tinha sido descontado. A explicação do escritor Frei Betto, principal assessor de Lula no Fome Zero, foi que o programa não tinha uma conta bancária para depositar esse cheque ou qualquer outro. O papelão não demorou a chegar. Havia uma conta e Frei Betto não sabia.

Um ano e meio depois da implementação do Fome Zero, o programa acumula um grande número de denúncias de desvios, corrupção e ineficácia. Frei Betto, amigo próximo de Lula, foi um dos que mais cedo abandonaram o barco. Junto com ele, mais de uma dúzia de históricos companheiros de viagem optaram por voltar para casa.

Outro nítido exemplo da incompetência do governo Lula é o programa Primeiro Emprego. Prometia-se gerar cerca de 250 mil empregos diretos para os jovens em seu primeiro ano de implementação, mas apenas 1% das vagas prometidas foram efetivamente criadas. Mais um programa do governo federal que quase não saiu do papel.

Além da questão social, o governo Lula está vivendo ainda entre dois extremos. De um lado o setor produtivo, que ainda queixa-se das astronômicas taxas de juros e da pesada carga tributária aplicadas pelo governo. De outro aplausos eufóricos dos bancos e investidores. Nunca, desde a metade do século passado, os bancos ganharam tanto dinheiro no Brasil como no governo do ex-dirigente sindical que comandou greves históricas entre os anos 70 e 80.

A verdade é que o setor especulativo está ganhando. O produtivo, não. Diante deste cenário, o que muitos se perguntam no Brasil é : se toda a mudança é o que está aí, por que foi eleito Lula e não o então candidato do PSDB, José Serra ?

*Pedro Tobias é deputado estadual e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

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