Conferência defende política estratégica de ciência e tecnologia

Abertura reúne autoridades da área política, científica e empresarial
16/08/2001 18:20

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O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Walter Feldman, abriu nesta quinta-feira, 16/8, a Conferência Regional de Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo. A série de seis conferências regionais iniciada ontem culmina com uma conferência nacional, prevista para Brasília, de 18 a 21 de setembro próximo, para fixar as diretrizes de um plano estratégico de desenvolvimento científico e tecnológico para os próximos dez anos.

Da mesa de abertura participaram ainda o secretário estadual da Ciência e Tecnologia, Ruy Altenfelder; a deputada federal Luiza Erundina, membro da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Federal; os deputados Sidney Beraldo e Célia Leão; o professor Ruy Quadros, representando o Ministério de Ciência e Tecnologia, e o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), professor Carlos Henrique Brito Cruz, entre outras autoridades da área política, científica e empresarial.

Na cerimônia de abertura, o presidente Walter Feldman ressaltou que a inovação tecnológica pressupõe a "inovação cultural" em curso no Estado de São Paulo. Hoje, prossegue Feldman, se tem a "compreensão exata do papel da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento econômico e social do país". O deputado Sidney Beraldo (PSDB), coordenador da Frente Parlamentar de Apoio à Micro e Pequena Empresa, relembrou o papel do Legislativo paulista no desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Data de 1983 a emenda constitucional do então deputado Fernando Leça, hoje superintendente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo, e que também integrou a cerimônia de abertura. A "emenda Leça", como ficou conhecida, obrigou o Estado a repassar verba - mensalmente - à Fapesp. Na Constituição do Estado, de 1988, mais um avanço. Eleva-se de 0,5 para 1% a dotação orçamentária para pesquisa.

No mesmo sentido, a deputada Célia Leão (PSDB), presidente da Comissão de Cultura, Ciência e Tecnologia da Assembléia Legislativa, lembrando os investimentos sérios e compromissados feitos na área por Mário Covas e Geraldo Alckmin, destacou a importância da aproximação entre a sociedade e os poderes públicos, para que ciência e tecnologia sejam instrumentos de justiça e desenvolvimento social.

Impactos da inovação tecnológica. A compreensão das mudanças ocorridas nas três últimas décadas, com a internacionalização do processo produtivo, e o papel fundamental do conhecimento na revolução tecnológica marcaram as palestras do simpósio realizado sob o tema "Transformar conhecimento em valor econômico e social".

Os integrantes da mesa, coordenada por Roberto Muller, da Gazeta Mercantil, destacaram a necessidade da atividade de pesquisa extrapolar o ambiente universitário, concentrando-se cada vez mais nas empresas, nos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), como vem ocorrendo em todo o mundo.

Brito Cruz, presidente da Fapesp, registrou que a presença brasileira na ciência mundial é da ordem de 1,5% - a da Itália é de 2 a 3% - e que esse índice constitui razão poderosa para continuarmos a produzir ciência e treinar pessoal capaz de entender a produção científica mundial. Como exemplo dos bons resultados obtidos com o emprego estratégico de pesquisa científica e tecnológica, citou o caso da Embraer, que hoje participa com 2 bilhões de dólares na pauta de exportações brasileiras.

A capacidade de mudar, encarada como importante fator de competitividade, foi o destaque da exposição de José Augusto Corrêa, do Departamento de Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Corrêa lançou a idéia de uma "ecologia empresarial", capaz de alterar o ambiente hostil à atividade empresarial existente no Brasil.

Com o objetivo de discutir a relação da sociedade com este novo mundo, Carlos Vogt, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), discorreu sobre a proposta de criação de um instituto de estudos do impacto da tecnologia e da inovação sobre a sociedade, apto a agregar competências para mapear também a atividade empresarial e da mídia na área de pesquisa e desenvolvimento.

Saúde Coletiva. José Carvalheira, da Secretaria da Saúde, abordou o tema Ciência, Tecnologia e Saúde Coletiva. Segundo o orador, é consenso entre os pesquisadores que a área da pesquisa foi esquecida por décadas. No setor da ciência e tecnologia, por exemplo, existem 3.500 grupos, que envolvem cerca de 15 mil pesquisadores. "Desses grupos, apenas 50% são originários da tradicional disciplina que representa a área da ciência da saúde; 25% pertencem à área da ciência biológica e os outros 25% à área agrária", explicou Carvalheira. "A implantação do cartão do Sistema Único de Saúde (SUS) permitirá que os dados de 170 milhões de pessoas sejam acessados de qualquer parte do país. Isso possibilita a produção de relatórios semanais." Com isso, segundo Carvalheira, o SUS deixará de ser visto como um "consumidor de pesquisas" para ser encarado como um "produtor de conhecimento".

Informação em Saúde. Marco Zago, da USP, falou sobre Ciência, Tecnologia e Informação em Saúde. Em sua opinião, é preciso haver "estruturação e interdependência do sistema de educação superior em saúde com outras áreas de pesquisa". Segundo ele, no Brasil existem 95 faculdades de medicina que formam 9.500 alunos/ano, "mas no diretório dos pesquisadores grau um na área de nutrição e saúde coletiva existem 175 pesquisadores, dos quais 80% estão concentrados em 8 faculdades de medicina. No Estado de São Paulo, temos 16 faculdades de medicina."

Violência. Sérgio Adorno, da USP, último orador do dia, abordou a questão da Violência na área da ciência e tecnologia. Para ele, a área de pesquisa sobre violência, até mesmo pelo aumento da criminalidade no Estado, está muito aquém do ideal. "Faltam dados para compararmos a situação que vivemos no Brasil com outros países". Mesmo assim, é possível verificarmos um aumento de 10% nos chamados "crimes violentos" se compararmos as décadas de 80 e 90. O aumento da violência se deve, entre outros fatores, à inclusão do Brasil na rota do tráfico de drogas e à desigualdade social. "A área da segurança exige uma política agressiva", alertou Adorno.

A conferência continua nesta sexta-feira, 17/8, a partir das 9 horas, no auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa, quando serão abordadas As bases do desenvolvimento científico e tecnológico.

alesp