Crime ecológico

OPINIÃO - Giba Marson*
08/04/2003 18:16

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Os cuidados com o meio ambiente devem ser cada vez mais intensificados, pois o planeta vem sofrendo ações de degradação que estão comprometendo a sua existência. Além do descaso com a natureza, é preciso levar em consideração que, nos últimos 100 anos, a população do Brasil cresceu mais de dez vezes, e que na região metropolitana de São Paulo houve um crescimento de dezessete vezes. Isso significa que o consumo humano de água só para beber cresceu 17 vezes de 1903 a 2003. Imaginem o crescimento do consumo de água da indústria, da lavoura, da limpeza das metrópoles, enfim do desperdício de água na vida moderna. Imaginem agora que a quantidade de água existente é menor, e bem menor, do que tínhamos no início do século XX, além do gravíssimo problema da redistribuição. Sem dúvida, estamos diminuindo a perspectiva de vida saudável. Se você já tem mais de 40 anos, lembre-se das nascentes que você conheceu na sua infância e adolescência. Onde estão? Secaram? Ou estão contaminadas com o esgoto que não foi tratado?

Alguns estudiosos no assunto dizem que somente 3% da água existente no planeta é potável e, mesmo assim, nós continuamos a dar descarga no sanitário do banheiro de nossa casa com água potável e fluoretada, quando deveríamos utilizar para isso água de reuso.

Imagine agora as conseqüências ambientais da guerra do Iraque, com poços de petróleo sendo incendiados, com o calor provocado pelas explosões das bombas, agravados por um território seco e deserto. A causa dessa guerra pode ser o petróleo - que os aliados querem defender em terras alheias, que também são explorados pela França, Alemanha e pelos russos, que evidentemente são contra a idéia que os poços petrolíferos que eles exploram no Iraque sejam incendiados - mas o foco central podem ser também os recursos naturais, pois não é à toa que com o preço de dois litros de água no Iraque você consiga encher algumas dezenas de vezes o tanque do seu carro.

Os holandeses já trocam petróleo iraquiano com água de seu país e, aqui no Brasil, a contaminação provocada pela indústria Cataguases Papel, na zona rural da cidade de Cataguases em Minas Gerais descuidou-se da sua represa contendo rejeitos sólidos acumulados por mais de dez anos, com volume superior a 20 milhões de litros, e conseguiu contaminar toda a bacia do rio em Minas Gerais, Rio de Janeiro e agora lá se vai mar adentro.

Morreram os peixes, contaminaram-se solos de dezenas de fazendas e suas produções agrícolas. A empresa foi multada em 50 milhões de reais, que pode ser pago com desconto de 50% no décimo quinto dia. Duas pessoas ligadas à empresa foram presas, a indústria foi fechada e reabriu com liminar judicial. Qual será o final dessa história? De uma coisa podemos ter certeza, o crime ecológico não é considerado terrorismo, mas se Cataguases Papel estivesse sediada em Bagdá, a guerra já teria acabado.

*Gilberto Giba Marson é deputado estadual pelo PV

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