Atenção às cavas de areia

OPINIÃO - Padre Afonso Lobato*
08/10/2003 17:34

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No último sábado, 4 de outubro, estive na Câmara Municipal de São José dos Campos para acompanhar a audiência pública que discutiu o projeto de lei do vereador Dilermando Alvarenga Die, que visa a regulamentação das cavas de areia naquele município.

Começando a entender melhor o assunto, uma coisa ficou clara durante os debates: antes de se autorizar a abertura de novas cavas de areia é preciso discutir seriamente o que fazer com os enormes buracos já existentes ao longo de toda a várzea do Paraíba, fruto de anos de exploração.

Representantes do setor explorador de minério apresentaram belos projetos de ocupação de cavas, principalmente em Curitiba, como a Ópera de Arame. Porém, como bem lembraram alguns participantes, aquela é apenas uma iniciativa para centenas de milhares de cavas existentes no Brasil. Fica a pergunta: vamos fazer teatros e universidades dentro de cada cava? É lógico que isso é inviável e nem existe a menor intenção das empresas em faze-lo.

O que a população precisa tomar conhecimento é sobre os danos ambientais que as cavas de areia provocam e a partir daí avaliar o que seria melhor para nossas várzeas. As próprias empresas reconhecem os danos provocados. Por outro lado, existe a questão econômica, pois 70% da areia utilizada na construção civil no Brasil é proveniente de cavas e 30% dos rios, sendo que o Estado de São Paulo consome 50% de toda a produção nacional. Este negócio emprega 45 mil pessoas no país e movimenta anualmente R$ 2,6 bilhões.

O que ambientalistas e representantes de outros segmentos defenderam na audiência pública não é a paralisação da exploração, mas sim que os governantes estabeleçam regras claras e com plano de recuperação futura. Isso porque, as cavas de areia se transformam em criadouro de insetos transmissores de doenças, como a dengue; inutilizam as várzeas para a agricultura; o excesso de matéria em suspensão altera o PH da água e leva à morte de várias espécies de animais; além de poluírem o solo por derramamento de óleo das máquinas, entre outros materiais. Esses são apenas alguns exemplos.

Como deputado do Partido Verde, faço coro aos ambientalistas e entendo que as compensações feitas pelas empresas exploradoras, quando fazem, têm que ir além do plantio de mudas de árvores em locais distantes do ambiente degradado. Afinal de contas, já existem substitutos para a areia que precisam ser melhor explorados. O Vale do Paraíba não pode continuar abastecendo a construção civil da grande São Paulo e ficar apenas com os buracos. Queremos mais. Deixem nossas várzeas preservadas.



*Padre Afonso Lobato é deputado estadual pelo Partido Verde

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