Opinião - UTIs infantis: um problema que persiste


04/11/2010 16:50

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É mais que conhecida a ineficiência de ações concretas que visem à melhoria na qualidade da saúde publica em todo o país. Sei que o Brasil não está atrás de países de primeiro mundo como os Estados Unidos, em que a saúde pública simplesmente inexiste. Mas nos últimos dias me deparei com uma realidade ainda pior: não falta apenas saúde de qualidade, falta também atendimento básico e emergencial infantil.

Aqui na Assembleia tenho um trabalho próximo às comunidades e também aos pais, essas pessoas costumam expor as dificuldades que encontram ao procurar atendimento em postos e hospitais públicos. Meu gabinete foi procurado recentemente por uma mãe desesperada por causa da falta de leitos infantis em um dos hospitais públicos do Estado, por isso enviei um requerimento de informação à Secretaria da Saúde sobre a situação das UTIs. Só que o mais desesperador foi saber que na mesma semana em que ela nos procurou, mais 17 crianças esperavam por atendimento emergencial no Estado de São Paulo, e uma semana após, 12 crianças ainda aguardavam na mesma situação. O que está acontecendo?

Se por um lado o país teve grandes avanços em áreas como saneamento básico e também na demanda por vacinação, por outro, a melhora não é tão grande em cuidados para recém-nascidos e crianças. São vários os problemas, que vão desde a má qualidade das consultas de pré-natal e da assistência ao parto, até a falta de UTIs, de estrutura e de equipe especializada. Segundo o próprio Ministério da Saúde, 70% das mortes de recém-nascidos ocorrem por causas evitáveis.

Uma recente pesquisa do Ministério da Saúde e das universidades de Brasília (UnB) e de São Paulo (USP) concluiu que as falhas de atenção à gestante contribuíram para um aumento de 28% no risco de mortalidade fetal ou neonatal. Várias regiões do país convivem com UTIs superlotadas, que oferecem mais riscos de infecções. Neste ano, 40 crianças morreram em Imperatriz (MA) à espera de um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal.

A necessidade de ampliar a referência de leitos de UTI é algo emergencial, mas não só isso, a Folha de S. Paulo (25/10) publicou que pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) confirmaram a falta de pediatras em postos e hospitais do país. O estudo revelou também que o tempo médio para o preenchimento de uma vaga na pediatria chega a 8,6 meses.

Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, cada vez mais as mortes de recém-nascidos são maioria nas estatísticas de óbitos entre crianças de até um ano. Hospitais de cidades como Araçatuba, Catanduva, Fernandópolis e São José do Rio Preto convivem com superlotação das unidades e, para não omitir socorro, pegam equipamentos emprestados do Samu e até dos bombeiros e transformam salas comuns em UTIs. Em São Paulo, inquérito do Ministério Público apura pelos menos 30 mortes de crianças desde 2007 em razão da falta de leitos ou de superlotação nas UTIs.

Um pacto firmado entre o governo federal e os governadores e prefeitos das regiões mais afetadas visa reduzir em 5% a mortalidade infantil. Também há investimentos para abertura de 775 leitos de UTI e 1.446 leitos de Unidade de Cuidado Intensivo (UCI) neonatal e para a qualificação do parto e melhoria da atenção à gestante e ao bebê. O investimento previsto é de R$ 110 milhões em ações concentradas em 256 municípios.

A Secretaria de Estado da Saúde diz que o número de leitos de UTI neonatal em SP cresceu 211% nos últimos dez anos. Dos 654 novos, 262 referem-se a leitos criados em hospitais da secretaria. Mas porque essas medidas ainda são ineficientes? Mais que construir novos leitos, é importante investir em uma carreira pública para os médicos, em educação " desde o ensino fundamental até o superior " que dê ênfase ao estudo da medicina, investimento no atendimento ambulatorial e emergencial, com pessoal e local paramentados. Não, isso não é utópico, é apenas algo que precisa ser tratado como prioridade pelo Estado.



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido. Participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento da Assembleia.

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