Magia das cores e poder de transfiguração são características da pintura de Ricardo Lorente

Emanuel von Lauenstein Massarani
16/04/2003 14:00

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Tanto o papel quanto a tela constituem para Ricardo Lorente um campo de batalha sem fronteiras. O pintor enfrenta-os num trágico corpo a corpo, transformando através de seus gestos uma matéria passiva, inerte, em um ciclone passional, em energia cosmogônica e sempre irradiante.

É essa matéria convulsa sob uma vontade de ação que o interessa. A biologia dinâmica de um trabalho paroxístico, nascido de um êxtase, gera a força centrífuga de uma criação passional, onde cada quadro é um organismo vivo que se desenvolve seguindo suas próprias leis. Ai inclui-se a primeira expressão do gesto enraivecido na nova estrutura plástica, num espaço revolucionário, expansivo, sem limite ao desejo.

É certo que tanto quanto Antoni Tapies, a "reverie de la matière" de Ricardo Lorente atinge profundezas inigualáveis. Seus óleos sobre papel ou sobre madeira são verdadeiras tábuas de meditação e sensibilidade epidérmica, respiração da terra e naturalmente respiração da alma.

A sabedoria dessa pintura está, num certo sentido, escondida. Não se nota. Ao contrário: temos a impressão, ao primeiro impacto, de um abalo dos sentidos. Depois a fantasia volta a ligar os nexos que pareciam dispersos e, seguindo a preciosa presença da luz, no interior da própria matéria, algo se agrega, a estrutura se recompõe. E a obra se torna, aos nossos olhos, um mundo recriado: a memória de algo que se infiltrou dentro de nós e que não sabíamos possuir. Uma revelação deslumbrante.

Magia das cores e poder de transfiguração são características marcantes da obra Implosão do abstrato Ricardo Lorente, em cujas veias fala alto o sangue de Cervantes. O filtro da memória depura a imagem, elimina os resíduos do contingente, permanecem o sumo, o perfume e o sabor de uma experiência direta, sensual, repleta de fragrância e sensações novas.

O Artista

Ricardo Lorente nasceu em São Paulo, no ano de 1966. Formou-se técnico de Publicidade e Propaganda (1984/1986). Trabalhou no Departamento de Ilustração e Criação da MPM Publicidade e Propaganda. Especializou-se na criação de logomarcas e dedicou-se a trabalhos fotográficos na área de publicidade. Em 1984 trabalhou como ilustrador na Jotaele Publicidades. Estagiou no Departamento de Relações Industriais da Volkswagen do Brasil.

Autodidata, passou a dedicar-se, a partir de 1986, a pintura a óleo e aquarela, experimentando ainda materiais os mais diversos. Ilustrou a capa do livro "Folhas Soltas' de Kalime Gadia. Sua primeira exposição individual foi em 1987 no Espaço Cultural Chap Chap.

Possui obras de arte em várias coleções particulares e oficiais no Brasil e Exterior, entre elas na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

alesp