Opinião - Para onde o vento sopra


18/06/2009 19:07

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As manifestações do governo do Estado sobre a ligação seca entre as duas margens do estuário de Santos têm sido um festival de desinformação.

Primeiro se prometeu um túnel. Diante do fato irrefutável de que se criaria um limite definitivo para o calado dos navios que utilizam o Porto de Santos, o secretário estadual dos Transportes, Mauro Arce, resolveu voltar atrás em anúncio do governador e declarar a opção por uma ponte na Ponta da Praia, unindo as avenidas Mário Covas, em Santos, e Ademar de Barros, em Guarujá.

Ilustrando as matérias dos jornais, aparecia a montagem fotográfica de uma ponte estaiada, que segundo o secretário teria 2,8km de extensão, um vão de 800m de largura, 70m de altura, numa obra "estimada" em R$ 500 milhões e que iria demorar 30 meses para ser feita. De quebra, o secretário também garantiu que o pedágio não custará mais do que se paga hoje pela travessia das balsas.

Ao anunciar as dimensões, estimar o custo, o tempo de execução e garantir o preço do pedágio, Arce alertou que o projeto básico da ponte ainda seria contratado, ao mesmo tempo em que manifestou esperança de que ele fique pronto até o final deste ano. A tempo, portanto, de incrementar a campanha eleitoral do ano que vem.

Depois de mudar os planos de túnel para ponte, o governo do Estado deve agora, para o bem do porto de Santos, da malha rodoviária do Estado e das populações de Santos e Guarujá, mudar também a localização do empreendimento.

A nova versão da "ideia" não resiste a uma análise primária. Com 70 m de altura, a ponte impediria a entrada no porto de modernos portêineres e transatlânticos, que hoje já atingem mais de 80m e que, no futuro, podem ser ainda maiores.

É igualmente assustadora a imagem daquele minhocão de concreto atravessando o canal do Estuário mais movimentado da América do Sul, aterrissando devastadoramente sobre a avenida Ademar de Barros, em Guarujá.

Não parece factível que as quatro faixas para automóveis mais uma ciclovia que integrariam a ponte, numa largura total de 20 metros, conforme o anúncio do secretário, possam desaguar naquela avenida de Guarujá sem extensas desapropriações e de um prolongado terremoto a abalar moradores e comerciantes durante os dois anos e meio de obras pesadas.

O mais incrível é que o mirabolante projeto exclui totalmente o tráfego de cargas portuárias, não promove a integração da nova ligação com a malha rodoviária regional e não se sustenta em qualquer estudo técnico que justifique as escolhas apresentadas à sociedade.

Numa providencial iniciativa, a Prefeitura de Santos e a Codesp resolveram não mais aguardar uma proposta sensata do governo do Estado e resolveram desenvolver um estudo conjunto, de ligação das duas margens do porto, com o objetivo de tirar o máximo proveito do empreendimento, contemplando o transporte de cargas e de automóveis, minorar o impacto do trânsito na malha viária urbana e preservar as condições de circulação de navios no terminal portuário santista.

Se prevalecer o bom senso, o governo do Estado poderá então, ao assumir a proposta da Codesp e da prefeitura santista, abandonar a produção de factóides e parar de agir como biruta de aeroporto, que muda de posição conforme o vento, pondo-se finalmente a trabalhar para a concretização de uma das mais oportunas obras viárias do Estado de São Paulo.



* Fausto Figueira é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Saúde e Higiene da Assembleia.

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