O Legislativo paulista e o governo de Getúlio - I

Um retrato do país sob Getúlio Vargas
15/08/2002 16:37

Compartilhar:


DA REDAÇÃO*

Getúlio Dornelles Vargas nasceu na cidade de São Borja (RS), em 19 de abril de 1883. Foi chefe do governo provisório depois da Revolução de 30 e presidente eleito pela constituinte em 17 de julho de 1934, cargo para o qual foi reconfirmado com a implantação da ditadura do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. Foi deposto em 29 de outubro de 1945, mas voltou à Presidência em 31 de janeiro de 1951. Suicidou-se em 24 de agosto de 1954.

Formação e carreira

Descendente de tradicional família gaúcha, Getúlio Vargas tentou, a princípio, a carreira militar, decidindo-se, mais tarde, pelo curso de Direito. Por volta de 1894 foi estudar em Ouro Preto (MG) na Escola de Minas. Em 1898 tornou-se soldado na guarnição de São Borja e em 1900 matriculou-se na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo (RS). Não permaneceu lá por muito tempo, sendo transferido para Porto Alegre (RS) para terminar o serviço militar.

Em março de 1904, Getúlio matriculou-se na Faculdade de Direito de Porto Alegre, onde conheceu dois cadetes da escola militar, Pedro Aurélio de Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, que mais tarde viriam a desempenhar um papel importante na história do país. Na faculdade, dedicou-se ao estudo das obras de Júlio de Castilhos, fundador do Partido Republicano no Rio Grande do Sul.

Formado em dezembro de 1907, começou a trabalhar como segundo promotor público no tribunal de Porto Alegre. Mais tarde, voltou a sua cidade natal, São Borja, para trabalhar como advogado.

Em 1909, elegeu-se deputado estadual no Rio Grande do Sul. Reeleito em 1913, renunciou por causa de divergências com Borges de Medeiros, que governava aquele Estado. Voltou à Assembléia do Rio Grande do Sul em 1917, sendo reeleito em 1921. Em 1923 tornou-se deputado federal e, em 1924, líder da bancada gaúcha na Câmara.

Washington Luís, eleito presidente em 1926, escolhe Getúlio Vargas como ministro da Fazenda, cargo do qual abdica para disputar o governo de seu Estado. Eleito, tomou posse em 25 de janeiro de 1928, constituindo um forte movimento de oposição ao governo central e reivindicando o fim da corrupção eleitoral, através da adoção do voto secreto e universal.

Organização do governo

Ao assumir, Getúlio Vargas viu-se diante da tarefa de organizar um governo que superasse os antagonismos regionais e empreendesse a modernização do país. Seus primeiros inimigos foram sua própria inexperiência e a pouca profundidade de seus apoios. Nesse período, Vargas não era ainda uma liderança carismática. Além de a estrutura social do país e a debilidade dos meios de comunicação dificultarem o aparecimento desse tipo de liderança, o estilo cultivado por ele até então era o de negociador, silencioso e discreto, e não o do condutor de massas.

Outro obstáculo grave à constituição de um poder mais forte foi a inexistência de partidos políticos ou de correntes ideológicas com um mínimo de coesão, que sustentassem as decisões do novo governo e lhe servissem como ponto de referência. O abismo entre a retórica da centralização e a realidade era enorme. As alianças eram voláteis, desintegravam-se com muita facilidade ao primeiro entrechoque.

A crise de 1929 havia atingido em cheio a economia brasileira, diminuindo nossas exportações, aumentando nossos estoques de café e baixando o preço do produto. Vargas criou, em 1931, o Conselho Nacional do Café, que implementou a "política de sustentação" através da compra e queima dos excedentes que estavam estocados em depósitos do governo. A queima de 17,2 milhões de sacas em 1937 e nos anos seguintes contribuiu para a normalização dos preço do produto no mercado internacional.

As dificuldades enfrentadas pelo setor agrícola conduziram o governo a investir no desenvolvimento industrial como saída para a dependência externa.

Dois blocos

Getúlio Vargas apoiava-se, na realidade, em dois blocos que haviam se aliado ocasionalmente. De um lado, as lideranças políticas dos estados revoltosos, sobretudo as do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais; do outro, o movimento tenentista. Vargas havia reunido velhos amigos e feito alguns novos durante os últimos anos, mas não alimentava grandes ilusões quanto à estabilidade desses apoios, pois percebia o conflito latente entre os tenentes e as oligarquias, e também entre os tenentes e a hierarquia do Exército regular. Não demorou a perceber que o seu poder pessoal só se afirmaria enquanto permanecesse como a ponte entre essas duas correntes, ou enquanto pudesse se equilibrar acima delas.

*Fonte: texto do professor Lauryston Gomes Pereira Guerra, in www.culturabrasil.pro.br; e www.psg.com.

alesp