POLÍTICA E CIDADANIA - OPINIÃO

Caldini Crespo*
16/08/2001 14:46

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Com relativa freqüência, somos convidados a proferir palestras a estudantes de escolas de segundo grau e universitários sobre o tema que escolhemos para dar título a este artigo. Inspirados no livro "Fazendo a Democracia Funcionar", do professor Robert Putnam, da Universidade de Harvard, buscamos transmitir aos jovens alguns conceitos visando provocar uma mudança comportamental capaz de oferecer um salto de qualidade de vida em sociedade que, infelizmente, ainda está carregada de preconceitos e egoísmo.

Baseado em uma pesquisa de mais de duas décadas, desenvolvida em diversos países mas, principalmente, na Itália, o livro do professor Putnam ensina que as pessoas gostam cada vez menos dos governos e das instituições públicas, e neles confiam cada vez menos. E que fatores motivariam esse sentimento? Seriam os governos e instituições melhores antigamente? Os políticos de antigamente eram mais honestos e competentes? As leis de antigamente eram mais severas? Ou haveria no passado mais justiça e paz social?

A resposta a essa sucessão de interrogações é relativamente simples, mas surpreendente: As pessoas gostam menos dos governos porque eles são menos eficientes, e eles são menos eficientes porque diminuiu o nível de engajamento horizontal, o engajamento cívico das comunidades. E o que poderia caracterizar esse engajamento horizontal? A instituição de associações de pais e mestres, sociedades amigos de bairro, diretórios acadêmicos, clubes de serviço, partidos políticos e as ONGs, de maneira geral, acaba por fazer verter esse engajamento horizontal.

Essas colocações, apontadas no estudo, demonstram, de forma científica, que a qualidade de um Governo, não só no Brasil mas em qualquer lugar do mundo, depende muito do grau de engajamento cívico das pessoas. Não há como negar que onde há engajamento cívico o governo é mais responsável, democrático e eficiente e, conseqüentemente, existe menos politicagem.

Traçando um paralelo com a realidade das escolas, estudos demonstram que as escolas de melhor ensino não são as que manipulam mais dinheiro. Essa qualidade é detectada, sim, naquelas onde os pais e mestres interagem mais. Nos locais onde impera o comportamento vertical, onde o individualismo do "meu" se sobrepõe ao conceito do "nosso" não há espaço para o verdadeiro envolvimento e busca da melhora do coletivo.

Situações como esta exigem um rompimento com esse fenômeno, que nos conduz a uma sociedade cada vez mais egoísta e descrente, onde estamos cada vez menos dispostos a colaborar com o que quer que seja, a não ser que consigamos uma vantagem pessoal imediata. Não estaria o problema, mas também a solução, em nossas próprias mãos?

É certo que pensamento gera comportamento, mas comportamento também gera pensamento e pode mudar a História. De que adianta a intenção sem a ação para tentar concretizá-la? Sem ação a intenção, por melhor que seja, não passa de ilusão.

*Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL

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