Volta ao mundo em 41 discursos

Opinião
31/05/2005 17:54

Compartilhar:


Há alguns meses afirmei que a única lógica possível capaz de ser encontrada nas muitas viagens do presidente Lula " 41 até hoje, sem contar a Cúpula Árabe-América do Sul que insere-se no mesmo contexto " era a constituição de uma espécie de Internacional Populista, na qual líderes demagógicos estabeleceriam uma rede de suporte mútuo. A despeito de todos os discursos nos quais se afirma que os interesses do Brasil estão sendo promovidos por estas viagens, os resultados efetivos que se obtem ou são pífios em comparação com o carnaval realizado, ou ocorreriam de forma independente das comitivas e festividades.

Um outro elemento começou a ser desenvolvido desde minha última análise e merece ser destacado: é a necessidade de Lula tentar posar como grande estadista. Esta medida de nítido caráter eleitoral tem sido bastante explorada pelos marqueteiros do presidente, mas certamente, está tendo o efeito contrário no cenário internacional, nem tanto em função das múltiplas gafes presidenciais em todo discurso de improviso, até porque a política externa requer " aliás tanto como a interna " coerência e objetividade.

Lula passa a boa parte do mundo " talvez com a exceção dos irmãos populistas " uma imagem de franco-atirador, pronto a disparar em todas as direções, com a qual é muito difícil chegar a algo consistente. O mais claro exemplo desta falta de uma estratégia fundamentada está na duplicidade do discurso.

Em algumas viagens Lula aparece como um líder pragmático disposto a fazer acordos comerciais com qualquer um que tope, independente de questões políticas, ideológicas, estratégicas; já em outras, tenta repetir um discurso "terceiro-mundista, anacrônico, e se porta como líder dos países pobres. Detalhe importante a ser assinalado é que, em geral, o último discurso é complementado com farta distribuição de verbas públicas a ditaduras diversas.

É evidente que é possível reunir uma política agressiva de promoção comercial com a busca de alianças estratégicas em função de necessidades comuns, tal como fez o presidente Fernando Henrique Cardoso. Contudo a condição para que esta estratégia seja bem sucedida é não misturar política e economia, nem deixar de lado a coerência, atitudes que Lula não está praticando.

Quem lida com comércio exterior poderia dizer a Lula, por exemplo, que o ajuste cambial que eliminasse a distorção na cotação do dólar poderia incentivar as exportações muito mais do que uma ou duas dúzias de viagens, sem as despesas das comitivas e o risco de alguma gafe imperdoável. Ou então, que as concessões feitas a China com o reconhecimento daquele país como "economia de mercado" custou muitos empregos no país porque não era um simples documento político, mas a renúncia da utilização de mecanismo de proteção do Brasil contra a concorrência desleal.

A mistificação na questão do assento no Conselho de Segurança da ONU " apresentada para consumo interno como grande meta estratégica da chancelaria - agrava esta falta de segurança que o Brasil inspira a parceiros eventuais. Lula trata a questão como se fosse apenas repetir os métodos de barganha com os quais tentou convencer os deputados a retirar suas assinaturas da CPI, oferecendo vantagens comerciais em troca de decisões políticas.

É este o grande mal das aventuras e desventuras da política externa de Lula. Incapaz de compreender a necessidade de profissionalismo e objetividade na política externa, o presidente acha que relações exteriores são apenas algum tipo de campanha eleitoral em outra escala, ou eleição sindical. Assim, ao invés de planejamento, avalia que precisa apenas convidar os chefes de Estado para um churrasco e uma pelada no final da semana.

*Vaz de Lima é deputado estadual pelo PSDB

alesp