Recentemente, participei do encontro do The Club of Rome, que reuniu o governador Geraldo Alckmin, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney e representantes de outros países sul-americanos, do setor financeiro e empresarial, de ONGs e de entidades de ensino e pesquisa interessados em discutir os rumos da globalização. É inegável que a estrutura da economia mundial sofreu uma transformação sem volta, diante da formidável revolução tecnológica das áreas de comunicações e eletrônica, fomentada pela intensificação do fluxo de capitais pelas bolsas do mundo. O processo crescente de globalização incentivou a integração das empresas transnacionais, proporcionou a reorganização do mundo em blocos comerciais regionais (não mais ideológicos), além de promover a assimilação de culturas populares locais por uma cultura de massa supostamente universal, principalmente depois da queda do regime soviético. Mas, me pergunto: de que serve a globalização para países em desenvolvimento como o Brasil? Não quero me valer de um discurso retrógrado, de simplesmente praguejar contra a globalização. Afinal, os benefícios advindos deste processo são inquestionáveis e têm dado alento à nossa economia " basta olharmos o superávit da nossa balança comercial. O que defendo é que este processo de integração seja abrangente, englobando as reivindicações e necessidades de países pobres ou em desenvolvimento. O alerta foi dado pela ONU, que divulgou recente estudo intitulado A Cilada da Desigualdade. Nele, a entidade alerta que o fenômeno da globalização aprofundou as desigualdades sociais e em nada contribuiu para melhorar a distribuição de renda no mundo. O documento mostra que os 20% mais ricos do mundo são responsáveis por 86% do consumo global, enquanto os 20% mais pobres, por apenas 1%. Uma parcela de 80% do PIB mundial pertence a 1 milhão de pessoas vivendo no mundo desenvolvido. Segundo o relatório, programas de ajuste estrutural " capitaneados, principalmente, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) " e as reformas pró-mercado, discutidas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e nas negociações bilaterais entre blocos econômicos (Alca ou União Européia), apenas perpetuaram uma liberação comercial que só atende aos interesses das grandes potências mundiais. Em suma, os países desenvolvidos concentram cada vez mais riquezas, enquanto as discussões para o restante da humanidade se restringem a medidas compensatórias e assistencialistas. Escancaramos nossas fronteiras para importação de todo tipo de produtos advindos de países desenvolvidos, mas o mesmo não acontece em relação aos principais mercados compradores. Nossos produtos enfrentam todo tipo de obstáculo, seja por barreiras tarifárias ou sanitárias. Aliada a essa questão, a falta de um intercâmbio científico e tecnológico nos condena ao eterno papel de meros exportadores de matéria-prima.O documento da ONU também dedica grande espaço a questões de emprego e informalidade no mundo. Em dez anos, até 2003, o número de desempregados saltou de 140 milhões para 186 milhões, e hoje representa 6,2% da população economicamente ativa. Esse aumento concentrou-se nos países emergentes, diante do crescimento da força de trabalho e da adoção de políticas exclusivamente focadas no equilíbrio macroeconômico " resquícios do nosso famigerado acordo com o FMI. A liberalização do comércio nos países em desenvolvimento é marcada por uma maior flexibilização salarial e erosão dos salários mínimos, redução de empregos públicos, proteção trabalhista declinante e enfraquecimento das leis e regulações do emprego " medidas estas adotadas para atrair investimentos estrangeiros. Com isso, há uma explosão do número de trabalhadores informais, sem qualquer tipo de proteção social, que hoje representam 60% da força de trabalho dos países emergentes. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2003, 1,39 bilhão de pessoas, 49,7% dos trabalhadores do mundo, viviam em famílias com renda per capita inferior a US$ 2 por dia. Destes, 25% dos trabalhadores são de países emergentes, na maioria informais, que sobrevivem com menos de US$ 1 por dia.O atual processo de globalização nos lembra o sistema solar, em que os países em desenvolvimento, como o Brasil, são meros satélites que giram em torno do epicentro formado pelos interesses das grandes potências. Almejamos um lugar ao sol, para isso queremos uma globalização para todos. Arnaldo JardimDeputado estadual (PPS)arnaldojardim@arnaldojardim.com.brwww.arnaldojardim.com.br