NÃO ESQUEÇAMOS DE NÓS - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
16/11/2000 17:42

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Não é novidade para ninguém o fato de os meios de comunicação de massa exercerem uma influência muito grande sobre os hábitos e a educação das pessoas.

Primeiro, foi a televisão. Ela invadiu os nossos lares, ocupou nossas mentes e dividiu conosco a tarefa de educar nossos filhos, gerenciar nossa profissão e exercer nossa cidadania. Agora, de uma forma ainda mais avassaladora e eficiente, a Internet já está transformando decisivamente o comportamento da sociedade contemporânea.

O advento da televisão e sua rápida expansão promoveu uma verdadeira revolução no século XX, com efeitos diretos nas culturas locais e regionais provocados pela globalização e pasteurização das informações. Nesse caso falo não apenas das informações objetivas contidas nos noticiários, mas também nas informações subliminares veiculadas em novelas, filmes e outros programas de entretenimento.

O surgimento dos computadores pessoais e da rede mundial de computadores, a Internet, tem aumentado de forma geométrica o acesso à informação, possibilitando inclusive um novo tipo de relacionamento, não apenas passivo, mas interativo. Isso abre, em teoria, a possibilidade de uma informação menos pasteurizada e manipulável.

Certamente não faltam especialistas das mais diversas áreas (psicologia, pedagogia, semiótica, semiologia, sociologia, medicina) para analisar e procurar entender o significado e as conseqüências desses fenômenos para a humanidade.

Longe de querer dar ares de ciência às minhas considerações, arrisco-me a refletir sobre determinados aspectos que me preocupam nesse continuado e progressivo uso da Internet, hoje presente na maioria dos lares da parte inserida da sociedade brasileira. Trata-se de uma minoria, é bem verdade, mas trata-se também da parcela formadora de opinião, responsável direta pelos destinos da sociedade.

O primeiro aspecto é sobre a administração do tempo. É sério o risco da Internet e do computador destruírem a fronteira entre o lazer e o trabalho. Isso interfere diretamente no espaço de socialização de cada indivíduo. Fica comprimido o tempo para se falar e brincar com os filhos, para confidências com os amigos, para o relacionamento com as esposas, namoradas e até mesmo para a tão importante convivência comunitária.

O segundo aspecto é sobre a democratização das informações. Aparentemente a Internet é o supra-sumo da democracia, na medida em que nos possibilita uma navegação pelos mais variados lugares à busca das mais diversas e controversas fontes de informação. Me pergunto, no entanto, se essa liberdade não é apenas aparente. O fato é que a rede nos fulmina com tantas informações, dos mais variados tipos, que acabamos tendo dificuldades de acessar o que de fato nos interessa. A impressão que fica é a de que não acessamos, mas que somos acessados. Há ainda a possibilidade enorme de dispersão. Um risco ainda maior para os jovens que acabam tendo uma arma poderosa nas mãos, sem o devido preparo, o que nos coloca diante da necessidade de um acompanhamento mais amiúde para que o acesso ilimitado às informações não prejudique a educação.

De qualquer forma, devemos saudar a evolução tecnológica que nos trouxe a televisão e a Internet. Mas isso não deve cercear a reflexão e impedir que sejam apontados os riscos oriundos de novas tecnologias. E o principal deles está ligado ao afastamento de nós mesmos e dos nossos semelhantes.

Arnaldo Jardim é engenheiro civil, foi secretátio da Habitação em 1993 e é Presidente Estadual do PPS

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