A dicotomia metafísica das abstrações de Laís Gonçalves

EMANUEL VON LAUENSTEIN MASSARANI
16/10/2002 17:47

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A pintura de Laís Gonçalves, com o seu mundo de imagens espaciais e submersas, se insere "tout court" no centro do abstracionismo internacional, ainda vivo nos jovens que desejam permanecer no campo da pintura e não daquele ambíguo da tecnologia.

Se trata de uma arte de dicotomia metafísica, da qual uma parte deseja penetrar na essência da coisa, transfigurando ou anulando o "dado natural", e outra que se limita tão somente a observar as coisas e colocá-las em relação à razão.

A autora, que assina sob o pseudônimo Laaigon, parece ter recebido intuitivamente os dois chamamentos metafísicos no fundo de sua consciência autocrítica. Tanto que de um lado motiva as suas razões de ordem, de clareza e de evidência cartesiana, e de outro não desleixa as suas intervenções irracionais que a conduzem mais facilmente e dilata seu discurso em sentidos múltiplos.

Experimentando fibras naturais, colhidas de uma espécie de coqueiro, denominado cocus russiphera, a artista busca valorizar o espaço, justapondo-as dentro da superfície composta. Dessa maneira, manifesta sua necessidade de exprimir com mais liberdade, no mesmo espaço, até a eliminação radical de toda forma constituída de signo codificado.

Com uma maior depuração dos elementos da composição, a tela na obra de Laaigon adquire tanto em vibração quanto em profundidade e se torna decisivamente abstrata e independente.

Modulada com comedido ritmo e com rigorosa paginação, a obra Fundo do Mar, doada ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, na sua extrema simplificação dialética e com cromatismo vibrante é percorrida de instantes sensíveis, de luzes sutis e se presta muitas vezes a interpretações emblemáticas e oníricas.

A artista

Laís Gonçalves ou Laaigon, nasceu em Lutécia, Estado de São Paulo, em 1954. Formada em Educação Artística e em Desenho, pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo (1976/1997), sob a orientação do professor José Teixeira Gonçalves (desenho) e da professora Dalva de Andrade (óleo sobre tela).

Desde 1974 vem participando de diversas exposições coletivas, destacando-se: IX Exposição Estadual de Pinturas e Desenhos - Lions Club de São Paulo (1976); I Salão de Artes Plásticas da ACM de Sorocaba (1978); VI Salão Ararense de Artes Plásticas, São Paulo (1980); Galeria Bauhaus de Londrina (PR) (1985); Espaço Cultural Medcenter Centro, São Paulo (1996); I Salão Oficial de Artes Plásticas e Design - Mostra Comemorativa de Brasil 500 Anos - Centro Cultural Aricanduva "Prêmio Menção Honrosa" (2000); Mostra Coletiva de Artes Plásticas - Instituto de Cultura, Ciências, Letras e Artes, São Paulo (2000); Arte Mulher - Espaço Cultural Leonardo Da Vinci (2000); I Leilão de Arte Solidária - Fundação Gol de Letra - São Paulo (2002); Exposição de inauguração do Espaço Cultural Hilton/Academia Brasileira de Arte, Cultura e Historia (2002); New York City Center, Rio de Janeiro (2002); Exposição Coletiva em Comemoração ao Mês da Independência do Brasil - Espaço Cultural Hilton, São Paulo (2002); Exposição Primavera - Central Plaza Shopping, São Paulo (2002).

Organizou, também, exposições individuais no Espaço Cultural Brastom, em parceria com a Academia Brasileira de Arte e Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo (2000); Livraria Cultura - Conjunto Nacional, São Paulo (2001); e Galeria Parque Avenida, São Paulo (2002).

Possui obras em importantes acervos oficiais e particulares.

alesp