Um olhar além do voto

Opnião - Arnaldo Jardim
11/10/2002 15:42

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Abertas as urnas, contados os votos, escolhidas as bancadas federais e estaduais, definidos os senadores e consolidado o quadro de segundo turno para o cargo de presidente e de governador de diversos Estados, cabe comemoração quanto ao caráter pacífico, limpo e democrático das eleições, além de reflexão quanto aos ensinamentos advindos da escolha popular.

Os resultados confirmaram que a população brasileira está na oposição e não se deixa levar mais por terrorismos econômicos ou institucionais. Trocando em miúdos, houve debate, muita informação e ficou provado que a democracia está consolidada: hoje o país está maduro para suportar e respeitar qualquer resultado eleitoral.

Não existe nenhuma hipótese de uma vitória do Lula, por exemplo, provocar qualquer tipo de risco. A sociedade brasileira amadureceu: os partidos, as organizações sindicais de trabalhadores, as representações empresariais, as lideranças comunitárias e/ou setoriais estão a configurar um nação madura, pronta para garantir sustentabilidade e governabilidade a quem quer que seja eleito.

Merecerá, pois, repúdio de todos nós, qualquer tentativa de desenterrar fantasmas do passado ou de "procurar chifre em cabeça de cavalo".

Há, porém, questões que devem ser aprofundadas para um aperfeiçoamento democrático. A legislação partidária precisa ser alterada; o horário gratuito do rádio e da TV precisa ser revisto e faz-se urgente uma reforma política para corrigir distorções como as que permitiram a eleição de candidatos com número insignificante de votos, em partidos nanicos sem nenhuma base social, tradição ou coerência programática. Partidos frágeis tornam o quadro político movediço e são terra fértil para o fisiologismo.

Quanto ao horário político gratuito na mídia eletrônica tenho uma tese antiga para mudar radicalmente o atual formato. Acredito que se deva manter um espaço para conhecimento dos candidatos, mas acho que isso deve ser feito com ênfase no debate e com o horário destinado, não exclusivamente aos partidos, mas aberto à sociedade. Uma das idéias seria de ocupação do horário gratuito por algumas entidades da sociedade civil que defenderiam teses e chamariam os candidatos para debatê-las. Imaginem o horário político, ao invés de ocupado pelo bordão "meu nome é Enéas", cedendo lugar a um debate promovido pela Confederação Nacional da Agricultura perguntando aos partidos sobre suas idéias sobre temas como o protecionismo comercial, superávit na balança de pagamentos etc. O mesmo poderia ocorrer nas áreas trabalhista, habitacional, do menor, da segurança pública e tantas outras.

Passado o segundo turno, e qualquer que seja o resultado eleitoral, é preciso que a sociedade brasileira exija do Congresso Nacional e do próximo presidente da República que estas questões sejam discutidas e solucionadas para que a democracia política conquistada possa ser aprimorada e fortalecida.

alesp