Opinião - Água de beber


23/03/2010 17:17

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Nós, moradores da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), temos a menor disponibilidade de água per capita do país. Conforme dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), são 165 mil litros anuais por pessoa enquanto o sertanejo que vive no semi-árido nordestino goza de uma disponibilidade hídrica anual de 400 mil litros. Ou seja, se considerarmos disponibilidade média anual, concluiremos que já estamos diante de uma situação de absoluta escassez de água. Em fevereiro de 1993, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), adotou o dia 22 de março como Dia Internacional da Água.

Segundo dados da ONU atualmente cerca de um bilhão de pessoas não tem acesso à água potável, situação que tende a piorar, sobretudo nos países menos desenvolvidos e na cidades de modo geral. A ONU também estima em 1,8 bilhão o número de pessoas que estarão vivendo em absoluta falta de água até 2025, o que equivale a mais de 30% da população mundial e que por isso a escassez de água deve ser a principal causa de guerras em algumas regiões do planeta, como a África.

A situação vivida na Região Metropolitana de São Paulo é muito grave. Há décadas sofremos com a falta d"água, e a tendência é que esta situação se agrave ainda mais nos próximos anos, pois quase metade da água que a RMSP consome é importada da bacia dos Rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí de onde são extraídos 33 mil litros de água por segundo para alimentar o Sistema Cantareira, complexo que ocupa cerca de 230 mil hectares e abrange 12 municípios sendo 3 deles no estado de Minas Gerais. Portanto, disputamos essa águas com a Região Metropolitana de Campinas e algumas cidades mineiras.

Em 2014, vence a outorga concedida pela Agência Nacional de Águas (ANA) concedendo a Sabesp o direito à exploração desses recursos. Até lá, "vai se levando". Fontes alternativas terão de ser exploradas reduzindo a dependência do Sistema Cantareira, conforme já previsto. O problema é que não há fontes alternativas de água no entorno de São Paulo.

Estamos, na verdade, pagando hoje um altíssimo preço pelo histórico desprezo que dispensamos aos nossos rios. É sabido que os recursos hídricos do Brasil sempre foram tratados com leviandade, lamentavelmente desenvolvemos a cultura do desperdício em função da crença de que a água é um bem infinito do qual temos fartura. Essa postura contribuiu para o lamentável estado em que se encontram os nossos rios e lagos, principalmente aqueles localizados nas áreas urbanas.

Em São Paulo poderosos interesses econômicos privados se organizaram e se apropriaram das nossas águas. Os poluídos e mortos rios Tietê e Pinheiros infelizmente retratam a ganância econômica e a irresponsabilidade de sucessivos gestores públicos. Certamente a situação seria outra se estes rios não tivessem sido relegados a meros canais para o direcionamento das águas à geração de energia na Usina Henry Borden em Cubatão e para o despejo de tudo o que as cidades do seu entorno consideram descartável.

Uma das alternativas que tem sido é apresenta ao abastecimento da RMSP, é o antigo projeto Juquiá, que há décadas é motivo de críticas dos movimentos ambientalista. Em linhas gerais, este projeto transfere parte da atual dependência da bacia do Piracicaba-Capivari-Jundiai, para a bacia do Rio Juquiá no Vale do Ribeira. Trata-se de um plano que exige um conjunto de grandes obras para transpor o desnível da Serra do Mar, ou seja, entre outras coisas é muito caro.

Esperamos que neste Dia Internacional da Água, possamos refletir sobre a importância da água e sobre o tratamento que temos dispensado às áreas produtoras. Mais que isso, devemos reiterar o nosso compromisso com a preservação dos nossos mananciais, particularmente das Represas Guarapiranga e Billings que estão com sua capacidade de abastecimento comprometidas pela degradação provocada pela ocupação desordenada, o despejo de esgotos e o desmatamento. Finalmente é necessário que o Estado de São Paulo por meio da Sabesp adote um papel ativo neste processo tomando medidas como a compensação econômica aos municípios e proprietários de áreas produtoras de água e que tome medidas efetivas para a redução dos desperdícios.



*Enio Tatto é deputado estadual pelo PT

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