CPI contra a hipocrisia

OPINIÃO - Bancada do PSDB na Assembléia Legislativa de São Paulo
17/02/2004 19:10

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O PT construiu seu projeto político apresentando-se não só como paladino da ética, mas como se fosse o detentor do seu monopólio. Implacável com os adversários políticos, ao PT sempre bastou um leve rumor contra os outros para que o partido levantasse bem alto o brado de CPI.

O episódio do "subsídio" a campanhas petistas por parte do jogo do bicho, trazido à tona através de uma fita na qual se escancara o verdadeiro "jeito petista de governar", demonstra que o partido que ocupa o governo federal é tão leniente consigo próprio como é rigoroso com os demais.

A contradição entre os critérios que o PT utiliza para si daqueles com os quais pesam os outros transparece com clareza nos próprios argumentos que o governo federal utiliza para barrar a CPI. Uma destas falácias é que o caso refere-se a ações praticadas antes do presidente tomar posse. Raciocínio muito estranho este, que transforma em tábula rasa a carreira pregressa dos integrantes do governo, absolvidos de todas as suas más ações assim que tomam posse.

Raciocínio que também tenta afastar a atenção do público para que ninguém venha a fazer a pergunta mais óbvia: se os recursos extorquidos do jogo do bicho para campanhas petistas não contribuíram, ao menos em algum grau, também para financiar a campanha do presidente. Igualmente necessário perguntar se a "eficiência" de Diniz na arrecadação de fundos de campanha não contribuiu para que ele ocupasse o posto-chave que ocupava no momento que seus métodos foram trazidos à tona.

Da mesma forma é importante relacionar estas habilidades de Diniz com a função que ele ocupava na assessoria de Lula. Não se tratava, como ás vezes o PT tenta pintar, de algum funcionário subalterno ou de alguém que apenas ocupasse uma das muitas sinecuras distribuídas aos militantes, mas sim de um alto funcionário que tinha a função de negociar e articular em nome do presidente com os parlamentares, função que exige extrema confiança e credibilidade junto ao presidente.

O PT sempre foi conhecido por estar pronto a investigar a vida dos adversários e todos os escalões das administrações rivais, tarefa na qual o próprio Diniz tinha um papel decisivo e com a qual construiu sua carreira profissional. Assim só com muita ingenuidade e boa vontade é possível imaginar que não se tenha colhido algumas informações elementares sobre uma pessoa que ocuparia cargo tão decisivo. Será que jamais se ouviu nem um rumor sobre a ação de Diniz, nenhum boato, nenhuma insinuação?

Será que ninguém achou pelo menos estranho que ele aparecesse com sacos de dinheiro doados por pessoas reconhecidamente ligadas ao jogo do bicho ou com as quais tinha relacionamento em função do seu cargo?

Ainda que por generosidade se conceda ao PT ser portador de tamanha ingenuidade, mesmo assim é preciso considerar que tal falta absoluta de malícia é igualmente um perigo para qualquer administração.

Hipocrisia Não! CPI já!

alesp