Maioria das mortes de policiais ocorre durante serviço extra, denuncia ouvidor da polícia paulista


05/12/2000 13:16

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Segundo o ouvidor das polícias de São Paulo, Benedito Mariano, "o que mais vitima o policial no Estado é o bico [trabalho realizado em período de folga], tornando urgente a recuperação de seu salário, inclusive com a criação de um piso nacional".

Essa declaração foi feita hoje, 5/12, à 4.ª Caravana Nacional dos Direitos Humanos, que está percorrendo diversos Estados para fazer um diagnóstico da realidade vivida pelo policial brasileiro. Organizada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, que é presidida pelo deputado Marcos Rolim (PT/RS), a caravana esteve na sede do Legislativo paulista, onde realizou reunião conjunta com a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, presidida pelo deputado Renato Simões (PT). "Vamos levantar dados e aprofundar discussões de políticas públicas de amparo aos policiais vitimados em serviço e da política salarial em vigor", destacou Rolim.

Segundo dados trazidos pela ouvidoria paulista, de 1991 a 1999, 128 policiais foram mortos em serviço e 484 em período de folga, havendo ainda 215 suicídios. Somente neste ano, de acordo com a Comissão de Direitos Humanos da Polícia Militar, já morreram 27 policiais em serviço e 146 durante a folga; os casos de suicídio chegam a 20. Esses números alarmaram o deputado federal Cabo Júlio (PL/MG), membro da caravana, que informou que o índice médio é de um suicídio para cada 10 mil policiais. "Considerando esses dados, em São Paulo ocorre um suicídio para quase 4 mil policiais", calculou.

O deputado Alberto Fraga (PMDB/DF), relator da Comissão Especial de Segurança Pública da Câmara Federal, falou que é necessário mudar a concepção de que direitos humanos só existem para o bandido. "A maior violação dos direitos humanos dos policiais é praticada pelo próprio Estado e pelas polícias Civil e Militar", afirmou. Seu depoimento foi corroborado por Benedito Mariano, ao anunciar que, nos cinco anos de existência da ouvidoria de São Paulo, 4 mil denúncias internas, feitas por policiais militares, relatam abuso de autoridade sofrido nos quartéis.

João Batista Rebouças, presidente do Sindicato dos Investigadores da Polícia Civil do Estado de São Paulo, entidade que representa os 12 mil profissionais dessa área, denunciou desvio de função. Segundo ele, "a investigação em São Paulo está parada porque o policial civil tem que ficar tomando conta de preso; é preciso que ele retome sua função primordial de investigar".

O representante da Procuradoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo, Carlos Cardoso, reconheceu o trabalho de vanguarda que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal está realizando e salientou que "a causa dos direitos humanos diz respeito à totalidade da humanidade, pois todas as vítimas de crimes são vítimas da violação dos direitos humanos, inclusive os policiais civis e militares".

A 4.ª Caravana segue agora para o Rio de Janeiro e depois para o Rio Grande do Sul, ouvindo entidades ligadas aos policiais militares nesses Estados. Um relatório final, apontando providências para a melhoria da qualidade de vida dos policiais, deve ser entregue ao ministro da Justiça, José Gregori.

alesp