A ESTABILIDADE DO REAL E O SUOR DOS TRABALHADORES - OPINIÃO

Nivaldo Santana*
26/07/2000 14:00

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O IBGE divulgou recentemente que a inflação acumulada em seis anos do Plano Real é de 88,43%, segundo cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA). Pode parecer um número pequeno se comparado ao período em que a inflação atingia este percentual em um só mês. Mas ao contrário do que comemora o governo, este resultado vem provocando um estrago tão ou mais devastador no poder de compra do trabalhador do que ocorria no período pré-Real.

O prejuízo agora vem de duas frentes. Segundo o IBGE, as tarifas públicas e os preços dos serviços privatizados deram um salto gigantesco durante este período. O gás de botijão, por exemplo, subiu 217,03% desde que o Plano Real foi instituído, em junho de 1994. A gasolina, outro item que provoca pressões de preços em vários setores da economia, foi reajustada em 132,88% nestes seis anos para atender às exigências do Fundo Monetário Internacional.

Mas estes aumentos bem acima da inflação não ficaram restritos apenas às tarifas públicas. Os medicamentos tiveram alta em média de 150% neste período e os aluguéis residenciais, segundo o IBGE, subiram 382%. Mensalidades escolares e alimentos seguiram o mesmo caminho de alta. A telefonia fixa, que passou a ser operada por empresas privadas, teve aumentos autorizados pelo governo em 308,17% neste período.

A outra frente que manteve a chamada "estabilidade do Real" foi exercida pelo governo diretamente sobre os benefícios dos trabalhadores. Para impedir a execução de sentenças que pudessem conceder reposições salariais automáticas aos trabalhadores, FHC foi buscar abrigo na banda podre da Justiça do Trabalho. Por intermédio do ex-secretário-geral da presidência, Eduardo Jorge, o governo fez acordos com o ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho, Nicolau dos Santos Neto, para a escolha de juízes simpáticos ao Planalto. O objetivo era evitar qualquer repasse da inflação aos salários dos brasileiros.

Os termos desse conluio entre Brasília e o juiz Nicolau começam a aparecer agora na imprensa. Segundo já apurou o Ministério Público, a liberação de verbas para a construção do Fórum de São Paulo foi intensificada entre 1995 e 1996. Nestes dois anos, o Ministério do Planejamento liberou mais de R$ 35 milhões para as obras fraudulentas comandadas por Nicolau. Enquanto isso, nesta mesma época, o TST começou a cassar os benefícios dos trabalhadores nos dissídios coletivos.

Assim tem se portado o governo FHC nestes seis anos de governo. Para aprovar projetos de seu interesse no Congresso ou obter sentenças favoráveis na Justiça, Fernando Henrique não hesita em recorrer a métodos condenáveis e a promover alianças espúrias. Foi dessa forma que FHC conseguiu mais quatro anos no poder, com a aprovação pela Câmara da emenda que permitiu a reeleição.

O mesmo método de barganha também foi utilizado pelo governo várias outras vezes, sempre que havia algo de podre a esconder. A tropa de choque do governo foi acionada, por exemplo, para impedir a criação na Câmara de CPIs que investigariam a ajuda oficial aos bancos e o vazamento de informações privilegiadas, que trouxe prejuízos bilionários ao país na desvalorização do Real. Em todos esses momentos ficou uma mancha na história recente do Brasil.

Portanto, não há o que comemorar com o anúncio do IBGE. Pelo contrário. Os últimos acontecimentos só servem para reforçar a convicção de que o governo FHC usa as informações que lhe convêm para mostrar um Brasil que não existe. O Brasil verdadeiro é feito por trabalhadores que vêm pagando a conta da "estabilidade do Real", através de aumentos indiscriminados de tarifas públicas e preços de produtos. O resultado desse arrocho o brasileiro sente no bolso.



Nivaldo Santana é presidente da Comissão de Relações do Trabalho e líder do PCdoB na Assembléia Legislativa

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