AINDA SOBRE O LEILÃO DO BANESPA - OPINIÃO

Marquinho Tortorello*
27/11/2000 14:30

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A Espanha, depois de décadas de autoritarismo franquista e atraso, atualmente, cidadã de plenos direitos da Comunidade Européia, tornou-se um dos mercados financeiros mais desenvolvidos do mundo. Alguns de seus bancos estão entre os maiores da Europa.

A enorme cifra de US$ 3,6 bilhões (não considerando se o ex-banco estadual paulista foi subavaliado) com que o Santander arrematou o Banespa no leilão do último dia 20, torna ululante, para o observador que ainda estivesse adormecido, o apetite voraz do capital internacional que investe sobre o nosso país.

As explicações oficiais preferem dizer que o que aconteceu na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro explicita como o Brasil tornou-se confiável. Nossa conjuntura exibiria equilíbrio político, inflação sob controle, estabilidade de preços, crescimento do Produto Interno Bruto etc.

Seria muito difícil um especialista independente acreditar que um montante de US$ 30 bilhões - que é o que se calcula como investimentos diretos estrangeiros neste ano - consiga ser disciplinado pelas nossas autoridades da área econômica. Afinal, elas lá estão exatamente para assegurar e facilitar a drenagem de parte considerável da nossa riqueza para ser assimilada, o mais depressa possível, por este capital avassalador.

No máximo, a crise será driblada por mais algum tempo, mas sem a menor garantia de que as reais e mínimas necessidades dos brasileiros serão atendidas. Só para dar um exemplo, as taxas de juros continuam exorbitantes, nocauteando o nosso empresariado. No dia em que os bancos começarem a praticar uma política agressiva de redução da taxa de juros, então poderíamos começar a rever o proverbial desânimo que afeta qualquer operador econômico brasileiro, evidentemente desde que não cooptado pelo capital internacional.

O eventual deslumbramento diante de tanto aporte financeiro, como tem acontecido até com parte da imprensa, vem contribuindo para ofuscar o juízo crítico dos cidadãos.

Mais cedo ou mais tarde, podemos ter certeza disso, saberemos detalhes destas operações fenomenais e então - para além do noticiário oficial - conheceremos os desvãos e interstícios dessas megaoperações. Por enquanto, aumenta o rol dos casos a serem mais bem esclarecidos na expropriação do patrimônio nacional.

*Marquinho Tortorello é advogado, professor, deputado estadual (PPS), membro das comissões de Economia e Planejamento e Esporte e Turismo da Assembléia Legislativa.

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