A Espanha, depois de décadas de autoritarismo franquista e atraso, atualmente, cidadã de plenos direitos da Comunidade Européia, tornou-se um dos mercados financeiros mais desenvolvidos do mundo. Alguns de seus bancos estão entre os maiores da Europa.A enorme cifra de US$ 3,6 bilhões (não considerando se o ex-banco estadual paulista foi subavaliado) com que o Santander arrematou o Banespa no leilão do último dia 20, torna ululante, para o observador que ainda estivesse adormecido, o apetite voraz do capital internacional que investe sobre o nosso país.As explicações oficiais preferem dizer que o que aconteceu na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro explicita como o Brasil tornou-se confiável. Nossa conjuntura exibiria equilíbrio político, inflação sob controle, estabilidade de preços, crescimento do Produto Interno Bruto etc.Seria muito difícil um especialista independente acreditar que um montante de US$ 30 bilhões - que é o que se calcula como investimentos diretos estrangeiros neste ano - consiga ser disciplinado pelas nossas autoridades da área econômica. Afinal, elas lá estão exatamente para assegurar e facilitar a drenagem de parte considerável da nossa riqueza para ser assimilada, o mais depressa possível, por este capital avassalador.No máximo, a crise será driblada por mais algum tempo, mas sem a menor garantia de que as reais e mínimas necessidades dos brasileiros serão atendidas. Só para dar um exemplo, as taxas de juros continuam exorbitantes, nocauteando o nosso empresariado. No dia em que os bancos começarem a praticar uma política agressiva de redução da taxa de juros, então poderíamos começar a rever o proverbial desânimo que afeta qualquer operador econômico brasileiro, evidentemente desde que não cooptado pelo capital internacional.O eventual deslumbramento diante de tanto aporte financeiro, como tem acontecido até com parte da imprensa, vem contribuindo para ofuscar o juízo crítico dos cidadãos.Mais cedo ou mais tarde, podemos ter certeza disso, saberemos detalhes destas operações fenomenais e então - para além do noticiário oficial - conheceremos os desvãos e interstícios dessas megaoperações. Por enquanto, aumenta o rol dos casos a serem mais bem esclarecidos na expropriação do patrimônio nacional.*Marquinho Tortorello é advogado, professor, deputado estadual (PPS), membro das comissões de Economia e Planejamento e Esporte e Turismo da Assembléia Legislativa.