O QUE MEU FILHO VAI SER QUANDO CRESCER? - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
30/08/2001 17:53

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Célula mãe da sociedade, a família reúne o homem e a mulher para gerar o milagre da criação, caminho para a perpetuação da espécie.

Frutos desse milagre, os filhos se transformam no grande orgulho e na razão maior da existência dos pais: o maior sonho de um pai e de uma mãe é a felicidade dos seus filhos, sintetizada na expressão "trabalho para que meu filho tenha uma vida melhor do que a minha".

Talvez aí esteja resumido o sentido de aperfeiçoamento da espécie, de busca de realização e de reprodução do conhecimento.

Ali, no dia-a-dia do trabalho, no auge das dificuldades, pais e mães se superam agarrando-se às forças advindas das perspectivas futuras para seus filhos. Valerá sempre a pena o sacrifício físico e mental desde que seja para garantir ao rebento o sustento e a abertura de caminhos para uma vida melhor.

Esse círculo virtuoso, gerado no seio familiar, construiu ao longo das gerações o sentido de nacionalidade. Trata-se de uma identidade cultural, uma associação por defesa, que reuniu diversas famílias em torno de um mesmo território, dos mesmos princípios e de uma mesma cultura. Subentenda-se daí que para cada um ser melhor é preciso que haja um país melhor.

Hoje, em nosso País, esse sentido de aperfeiçoamento que, em maior ou menor grau, foi observado nas últimas décadas, está ameaçado. Os pais que graças ao sacrifícios dos seus pais puderam ter uma melhor formação educacional e uma melhor renda hoje olham para seus filhos e em sua cabeça está a martelar sérias dúvidas sobre o destino que lhes é reservado, do ponto de vista da qualidade de vida e da realização pessoal.

Esse é o resultado de um modelo econômico que além de aprofundar o fosso social e tornar ainda mais pobre os já pobres, tem aniquilado a classe média destruindo o que foi conseguido a duras penas. Esse processo perverso diminuiu as oportunidades para os profissionais liberais, acentuou a concentração de renda e disseminou, mesmo entre as médias empresas, a cultura do enxugamento, do achatamento salarial e da diminuição de postos de trabalho implementada pelas grandes conglomerações empresariais.

O fato é que a classe média, grande protagonista da distribuição de renda em qualquer sociedade, agoniza. O Brasil caminha cada vez mais na direção de uma divisão radical: de um lado uma diminuta casta de proprietários poderosos economicamente e de outro uma enorme massa de assalariados, muitas vezes desprovida. Isso para não falar dos excluídos que a cada dia recebem adesão de ex-assalariados.

O quadro não é nada animador e nos atordoa saber que ao olhar nos olhos dos nossos filhos vimos uma pergunta que não quer calar: O que será que ele vai ser quando crescer?

Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, relator geral do Fórum São Paulo - Século XXI e presidente estadual do PPS.

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