Uma cratera no Rodoanel

OPINIÃO - Emidio de Souza*
17/02/2004 19:56

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Há mais de um ano venho cobrando das autoridades estaduais e municipais e denunciando à opinião pública o descaso da Dersa e da Prefeitura de Osasco para com os moradores do Conjunto dos Metalúrgicos e do Jardim Veloso, ambos bairros da zona Sul da cidade. A Dersa, empresa do Estado de São Paulo responsável pela construção do Rodoanel, deveria realizar obras complementares no local, conforme o projeto original, mas não as faz, e vem faltando com a verdade ao comentar os problemas gerados por ela mesma. A Prefeitura de Osasco, por sua vez, faz de conta que nada tem a ver com o problema.

Entre essas obras estão, por exemplo, a construção de piscinão, drenagem e canalização dos córregos que passam pelo local, plantio de árvores e a reconstrução de um campo de futebol, que existia antes do Rodoanel, até então a única área de lazer dos moradores do Conjunto dos Metalúrgicos.

O local em questão tem o formato de uma cratera, cercado pelo trecho Oeste do Rodoanel, o Conjunto dos Metalúrgicos e prédios residenciais do Jardim Veloso. Devido ao assoreamento dos córregos - na verdade esgoto correndo a céu aberto - e a água das chuvas que se acumulou nos últimos anos a cratera transformou-se num imenso "piscinão", chegando em alguns pontos a alcançar mais de cinco metros de profundidade.

Com o passar do tempo o mato começou a crescer e ocorreu proliferação de ratos, baratas, aranhas, mosquitos e até de cobras. O mau cheiro de água podre tornou insuportável a vida dos moradores do entorno. E o que é pior: três pessoas morreram afogadas ao nadar nas águas fétidas do "piscinão" da Dersa, a última das quais no começo deste mês, o que causou revolta na a população.

Os moradores do Conjunto dos Metalúrgicos e do Jardim Veloso decidiram então interromper o tráfego no Rodoanel. O protesto estava marcado para o final da tarde de três de fevereiro último, porém a Dersa conseguiu impedir o bloqueio do tráfego, com o auxílio de oito viaturas da Polícia Militar.

A população, no entanto, obteve uma vitória parcial em sua luta. A Dersa retirou parte do lixo e do entulho e, para esvaziar o "piscinão", teve que usar até dinamite para desobstruir a passagem da água. Hoje a situação está um pouco melhor, mas em dias de calor a população volta a sofrer com o mau cheiro e a proliferação de pernilongos devido à existência ainda de água preta estancada nas partes mais baixas do "piscinão".

Tão logo esvaziou o protesto, a Dersa informou que "as obras foram concluídas no prazo e sem intercorrência, estando, assim, o piscinão em efetivo funcionamento". Considerar a cratera como um "piscinão" acabado é o mesmo que dizer que a água poluída do rio Tietê, que passa por Osasco, está apta para o consumo humano.

A desfaçatez da empresa foi mais longe. Acusa os próprios moradores da vizinhança como responsáveis pelo problema no local, pois o entulho jogado por eles teria assoreado o "piscinão" e impedido a vazão da água. Essa afirmação é falsa. Presenciei pessoalmente vários caminhões de empresas particulares despejando entulho lá, fato este denunciado à Prefeitura de Osasco, que não tomou providência alguma. Quanto às mortes, também peca a Dersa ao afirmar que o local é sinalizado e cercado. Isto porque o muro que cerca a área tem vários buracos e se sinalização há deve estar camuflada.



É urgente que a Dersa tome providências definitivas, já que ela apenas deu uma "maquiada" no local. Alerto que o problema poderá voltar a se repetir porque suas causas não foram resolvidas. O "piscinão" aguarda obras para fazer jus ao nome, caminhões continuam jogando entulho e o esgoto a céu aberto está erodindo o local, colocando em risco as residências dos moradores, como ocorre no final da rua 23, no Conjunto dos Metalúrgicos.

Os problemas relatados aqui já foram levados por mim em duas ocasiões às autoridades estaduais responsáveis e ao Ministério Público Federal (MPF). Aliás, o MPF vem apurando denúncias também formuladas por mim relativas ao superfaturamento no preço de terrenos desapropriados e nas obras em si do trecho Oeste do Rodoanel.

Quanto à Dersa, em vez de tentar tapar o sol com a peneira ao fazer afirmações sem nexo com a realidade, reproduzo trecho de resposta, assinado por seu presidente, a ofício que enviei em outubro último cobrando providências: "a conclusão do reservatório de detenção (piscinão) somente será possível quando da disponiblização de recursos, uma vez que, embora estejam provisionados, aguarda-se a liberação da verba". Ou seja: sabe-se lá quando as obras complementares serão finalmente realizadas.



*Emidio de Souza é deputado estadual pelo PT e 1º secretário da Assembléia Legislativa.

alesp